UNO Outubro 2017

Para ser uma cidade global, não basta ser grande

Em todas as diferentes medições e rankings de cidades globais, são levadas em consideração diversas dimensões do que significa a vida em uma grande cidade. Assuntos como atividade econômica e empresarial, capital humano, infraestrutura, qualidade de vida, institucionalidade, meio ambiente e oferta cultural são determinantes para que Bogotá continue no caminho do posicionamento como uma cidade cada vez mais relevante no contexto internacional.

Sem dúvidas, o crescimento da cidade nos últimos anos foi veloz. Esta é uma cidade que cresceu em população, recebendo não somente colombianos de todas as regiões, como também cada vez mais estrangeiros. Hoje em dia, calcula-se que 45 % dos habitantes de Bogotá nasceram fora da cidade, o que representa a grande fortaleza que a cidade tem em termos de diversidade e oportunidades que oferece. Sua economia também cresceu, a tal ponto que, hoje, Bogotá contribui com um quarto do PIB do país e tem uma economia maior que a de muitos países da região. E a cidade também cresce geograficamente, expandindo-se pelo norte, sul e oeste até chegar aos limites de municípios vizinhos.

A transformação da cidade não passou desapercebia no âmbito internacional, posto que o número de turistas que a visitam é cada vez maior. Nos últimos 10 anos, o número de visitantes ao país dobrou, sendo 43 % acolhidos pela capital. Boa parte desse aumento tem a ver com a grande oferta cultural da cidade, que a torna cada vez mais atrativa para o turismo.

Com o crescimento, também é evidente que os desafios que a cidade enfrenta são cada vez mais complexos em assuntos ambientais, sociais, de mobilidade e de sustentabilidade.

As apostas da administração do prefeito Enrique Peñalosa apontam exatamente a uma cidade em que as decisões tomadas hoje levem em consideração a Bogotá de amanhã, onde a visão seja construída sobre os pilares da democracia urbana, a igualdade da qualidade de vida e a construção de comunidade.

Particularmente, na Fundação Gilberto Alzate, lançamo-nos à tarefa de interpretar um projeto específico da cidade: a revitalização do centro, através de projetos de transformação de espaços e do amplo espectro da cultura. Seja com propostas de urbanismo tático, que através de intervenções culturais permitem reinterpretar e propor novos significados temporais aos espaços públicos, ou com projetos ambiciosos como a criação do primeiro Distrito de Indústrias Criativas da cidade na zona do já desaparecido Bronx.

Interpretar um projeto específico da cidade (Bogotá): a revitalização do centro, através de projetos de transformação de espaços e do amplo espectro da cultura

Em diferentes cenários, o prefeito se referiu ao espaço público da cidade como o grande equalizador, como o lugar onde todos os cidadãos vivem em igualdade. Além disso, poder-se-ia dizer que o espaço público é a própria cidade, pois é o lugar onde os cidadãos transformam estruturas de concreto em organismos vivos. E se a cidade é o papel em branco, a cultura é a linguagem com a qual se escreve o nosso futuro.

Bogotá está catalogada como uma das primeiras cinco cidades do mundo com a melhor arte urbana, com seus famosos trajetos de grafite, seu Festival Ibero-americano de Teatro, que é reconhecido como um dos mais importantes da região, seu reconhecimento pela UNESCO como Cidade Criativa da Música em 2012, e os eventos “Al Parque” (encabeçados pelo Rock al Parque), que estão na lista dos melhores festivais musicais gratuitos no mundo. No âmbito da arte, iniciativas como ArtBo e Barcù começam a surgir dentro dos circuitos internacionais, a oferta gastronômica é cada vez mais reconhecida e surgem com maior frequência novas apostas locais por gerar propostas culturais de maior qualidade, alcance e projeção internacional em assuntos como cinema, literatura e outras expressões. Exemplos disso são IndieBo, EstereoPicnic, BogoShorts, a Feria del Millón e o LIT Festival, entre outros.

O grande desafio para Bogotá será conservar seu caráter, e construir, ao mesmo tempo, uma coesão em torno dos projetos vitais para a sustentabilidade da cidade

Possivelmente, um dos elementos que define melhor uma cidade seja sua cultura, e Bogotá, definitivamente, é uma cidade com muita personalidade. Essa é uma observação recorrente dos muitos estrangeiros que nos visitam, que comentam o quanto se surpreendem com a diversidade e os contrastes que encontram e que são, precisamente, o que faz desta uma cidade interessante e diferente.

O grande desafio para Bogotá será conservar seu caráter, e construir, ao mesmo tempo, uma coesão em torno dos projetos vitais para a sustentabilidade da cidade.

As oportunidades para que Bogotá se destaque como cidade global são muitas e cada vez mais claras, mas deve-se tomar decisões na direção certa. Igualmente, deve-se manter os investimentos em infraestrutura, mobilidade, desenvolvimento econômico e em uma melhoria da qualidade de vida, e nesse sentido, utilizar a linguagem da cultura como ferramenta para a revitalização e projeção das nossas cidades é um passo na direção certa. Bogotá merece e precisa disso.

Mónica Ramírez Hartmann
É diretora da Fundação Gilberto Alzate Avendaño
Mónica Ramírez é administradora de empresas do CESA (Bogotá), possui um MBA da Universidade Bocconi de Milão, Itália. Também fez o curso de negócios Internacionais em Georgetown University e de Agentes de Mudança Global na Escola de Governo Kennedy de Harvard. Conta com18 anos de experiência profissional no setor privado, principalmente em áreas de marketing e gerência de projetos. Em organizações como a Invest in Bogotá e o Australian Trade Commission, dedicou os últimos 10 anos da sua carreira a promover a Colômbia, mais especificamente Bogotá, como destino de investimento exterior, contribuindo com a melhoria do conhecimento que se tem sobre o país e a cidade no exterior. [Colômbia]

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