UNO Novembro 2014

Construindo a comunidade Ibero-americana

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Quando afirmamos que a comunidade ibero-americana é uma realidade viva, dinâmica e em permanente construção, não deixamos de honrar sua história de caminhos de idas e voltas em que foram se formando diferentes identidades, valores compartilhados, idiomas comuns e um grande e notável patrimônio cultural.

Sua vitalidade atual está fundamentada em três pilares: a coesão social e da economia, o conhecimento e a cultura. E é nessa tríade que se basearam iniciativas e programas que compõem a cooperação ibero-americana, impulsionada pela Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo.

No entanto, devemos reconhecer que não em todas as épocas foram atendidos, de maneira prioritária, os investimentos em educação, ciência ou cultura, justificando-se que havia coisas mais urgentes, apesar da indiscutível evidência da centralidade deste investimento na construção das capacidades necessárias para impulsionar o desenvolvimento sustentável.

Hoje apostamos com determinação em um modelo de desenvolvimento baseado no conhecimento, na ciência e na tecnologia. De fato, os indicadores internacionais mostram que há uma relação direta entre o investimento que um país realiza em educação, ciência e inovação e a saúde da economia e seu grau de desenvolvimento.

Com dados  de 2011/2012, o percentual do PIB destinado a I+D nos países mais desenvolvidos ao redor do mundo variaram de 2,8% a 4%, enquanto nos países ibero-americanos, o valor mais elevado é o de Portugal, com 1,5%, seguida pela Espanha (1,3%) e Brasil (1,2%), à frente da Argentina (0,6%) e do México (0,4%).

Hoje apostamos com determinação em um modelo de desenvolvimento baseado no conhecimento, na ciência e na tecnologia.

Analisando a geração de patentes, que é um indicador da capacidade inovadora – e que tem tanto impacto sobre a competitividade econômica e sobre a melhoria da qualidade de bens e serviços -, nos damos conta de que, entre 2001 e 2010, a Coreia do Sul, com 50 milhões de habitantes, registrou 60.232 patentes internacionais, frente às 2.945 da América Latina e do Caribe, com 600 milhões de pessoas.

03O alto investimento público e privado em infraestruturas, educação, ciência, tecnologia e inovação são a base do progresso dos chamados tigres asiáticos, progresso que se caracteriza por altas taxas sustentadas de crescimento econômico e redução da pobreza. Tudo isso deve chamar-nos a empreender uma revolução de produtividade para a Ibero-América. Devemos adicionar mais valor a tudo o que produzimos, seja no setor primário, industrial ou de serviços.

Uma verdadeira revolução da produtividade baseada na inovação, conhecimento e tecnologia, com contrapartida na qualidade da educação, capacitação e no investimento em ciência e tecnologia, uma melhor infraestrutura, o combate à informalidade e a plena incorporação das mulheres na economia e nas empresas. E não há dúvida de que uma maior produtividade gerará melhores salários e mais empregos, com consequente impacto positivo no crescimento e na distribuição.

Dar o salto na direção correta é viável em um momento em que ainda há condições favoráveis para assumir este desafio. E não se trata apenas de destinar recursos a políticas e  investimentos, mas também dar estabilidade a médio e longo prazo. Isso porque os resultados da aposta no conhecimento não se obtém de imediato. Ao contrário, o tempo necessário para que sejam plenamente visíveis poderá ser medido em uma geração, mas a solidez do modelo de crescimento econômico e do desenvolvimento social que será alcançado compensa e muito a espera.

Para alcançar estas metas é indispensável construir um autêntico pacto social e político, onde estejam alinhadas instituições, governos, do setor público e privado e os próprios cidadãos organizados. Da mesma maneira, é vital colocar em marcha atuações de envergadura que, por seu efeito multiplicador e dinamizador, contribuam para alcançar estes objetivos.

A partir da Conferência Ibero-Americana queremos contribuir para este esforço.

Temos diante de nós uma excelente oportunidade para assentar as bases que serão a grande transformação da nossa região no século XXI.

Não em vão a XXIV Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo (Veracruz, dezembro de 2014), leva o título “Ibero-América: educação, inovação e cultura”. Por isto temos levantado  a necessidade de incentivar a melhoria da educação em todas as etapas, apostando a partir do nosso espaço ibero-americano de conhecimento pelo ensino superior, incluindo a técnica e a tecnologia, através da mobilidade acadêmica de estudantes, professores e pesquisadores, baseada na certificação e no reconhecimento de estudos, tal como nos mostra a experiência europeia.

Temos diante de nós uma excelente oportunidade para assentar as bases do que será a grande transformação da nossa região no século XXI: uma Ibero-América reconhecida mundialmente por seu compromisso com o conhecimento e a cultura, líder em desenvolvimento humano e coesão social e exemplo da vanguarda no mundo que partilhamos.

Rebeca Grynspan
Secretária-Geral Ibero-americana
Economista e Ex-Vice-presidente da Costa Rica, foi eleita Secretária Geral Ibero-americana por unanimidade em 24 de fevereiro de 2014, na Cidade do México. Antes de sua nomeação, foi Secretária-Geral Adjunta das Nações Unidas e Administradora associada do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). De 2006 a 2010, Grynspan foi Subsecretária-Geral da ONU e Diretora Regional para a América Latina e o Caribe do PNUD. Anteriormente, foi Diretora da Sede Sub-regional da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) no México e Vice-Presidente da Costa Rica entre 1994 e 1998.

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