UNO Julho 2015

Um novo compromisso com o leitor

09_2Por muito tempo, o jornalismo na Espanha esteve de costas para o leitor. Muitas vezes os jornais escreviam pensando apenas em um pequeno círculo, que incluía outros jornalistas e os ambientes políticos. A Internet, no entanto,  promoveu um retorno na ordem da informação. O leitor, com a sua capacidade de escolher entre maior oferta de informações da história, está a apenas um clique de abandonar os meios que o defraudam. Os usuários, como em muitos outros setores, tornaram-se os reis absolutos. E são eles que exigem um novo compromisso que nos devolva a essência do nosso trabalho.

O jornalismo deve atuar como o guardião dos valores de uma sociedade e seu sistema democrático, vigia-lo e denunciar as tentativas de danificá-lo. Para faze-lo, deve manter distância do poder, evitando tornar-se parte do sistema que diz querer monitorar. O El Mundo espera oferecer informação relevante, útil e de qualidade a seus leitores, onde quer que estejam, no dispositivo que o usuário escolher, 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano. Um jornal corajoso deve estar disposto a suportar as pressões dos poderes políticos e econômicos, e se necessário, assumir o impacto negativo do seu compromisso moral com os leitores. A razão é simples: a base de um meio de comunicação se constrói com credibilidade. Se esta não existe ou é fraca, o projeto intelectual termina ruindo.

O jornalismo está no meio de uma revolução e temos de estar preparados para adaptar-nos rapidamente às mudanças

O El Mundo acredita na capacidade do jornalismo para impactar positivamente a sociedade e tem a determinação de superar os obstáculos que tentam impedi-lo. Acreditamos que estamos no início de uma era dourada do jornalismo, onde a tecnologia nos dá a oportunidade de alcançar mais leitores, ouvintes ou espectadores do que nunca. Não estamos satisfeitos em ser um jornal impresso ou um site. Queremos ser a grande marca do jornalismo em espanhol e distribuir o melhor que nossos jornalistas possam dar, através de todos os canais e plataformas. Para chegar a mais pessoas, em mais lugares.

09Um jornal do século XXI deve estar aberto a contar histórias em diferentes formatos, inovando na narrativa, apoiando-se na visualização de dados, oportunidades oferecidas pelos vídeos ou os gráficos interativos. E é possível fazer mantendo a essência do jornalismo, o rigor e a qualidade. O que nos permite dar ainda mais oportunidade a nossos usuários, ampliar o debate com eles e torná-los mais partícipes da sociedade a que pertencem.

Ninguém sabe o que o futuro trará, embora tenhamos a certeza de que vivemos uma revolução tecnológica que, longe de abrandar-se, está se acelerando. A próxima fronteira de jornalismo que já está sendo testada é a realidade virtual aplicada à melhor reportagem: em breve poderemos colocar o leitor em um conflito, um evento esportivo ou uma notícia, fazendo-o sentir-se testemunha do que está acontecendo a partir do seu computador ou telefone celular. O jornalismo está no meio de uma revolução e temos de estar preparados para adaptar-nos rapidamente às mudanças. Não se trata de reinventar o jornalismo, mas a forma de fazê-lo alcançar as pessoas.

A próxima fronteira do jornalismo que já está sendo testada é a realidade virtual

A tecnologia, além disso, ajuda agregar à nossa capacidade de informar, ser úteis no cotidiano das pessoas, aproximando serviços que tornem a vida mais fácil. O objetivo é claro: transformar El Mundo em um meio de comunicação multicanal com capacidade de chegar onde haja um leitor, ouvinte ou telespectador que busque informação séria, independente e de qualidade. Vamos fortalecer cada um destes canais e continuaremos apostando no mais importante: nossa versão impressa, preferida por milhares de pessoas. Porque é possível abraçar o futuro, sem necessidade de apagar o passado ou ignorar o presente. Será o usuário quem irá decidir onde, como e quando quer aproveitar as vantagens de estar bem informado.

Durante muito tempo, a imprensa viu na revolução digital uma ameaça. Agora começamos a descobrir que é, também, uma enorme oportunidade. Mas nenhum avanço tecnológico será capaz de mudar os princípios básicos de qualquer projeto intelectual que se preze. Os jornais apenas podem apresentar-se diante da sociedade com uma agenda, e está é a de servi-la. Agora que o leitor é mais rei do que nunca, e que seu poder de escolha é grande, nosso compromisso deve ser com ele. Não podemos ter outra agenda que não seja a regeneração democrática, a defesa das instituições, o fortalecendo de um país que ofereça igualdade de oportunidades a todos os seus cidadãos, denunciando abusos e monitorando um sistema cuja saúde não beneficie a todos. El Mundo estará sempre entre os defensores desses princípios.

David Jiménez
Diretor do jornal El Mundo
É diretor de El Mundo desde maio de 2015, jornal onde trabalha há 20 anos e ocupa, desde 1999, o cargo de correspondente na Ásia. Seus artigos e reportagens foram publicados no The Guardian, Corriere della Sera, The Sunday Times, Toronto Star e na Revista Esquire, entre outros. No último ano recebeu a bolsa Nieman da Universidade de Harvard, o programa para jornalistas profissionais de maior prestígio do mundo. David é autor de obras como Filhos da Monção, O Lugar Mais Feliz do Mundo e Os botões de Cabul.

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