UNO Novembro 2019

As cinco grandes tecnologias que estão a revolucionar a consultoria de comunicação

Durante o período de 1995-2000, Cisco System’s concentrou a sua visão estratégica em que o futuro das comunicações estaria suportado pelo conceito “IP Everywhere”, isto é, os operadores não ofereceriam redes “inteligentes” e serviços de “valor acrescentado”, mas antes a “inteligência” da rede estaria presente em todos os dispositivos conectados à mesma, e a rede seria apenas um condutor estandardizado por onde se moveria toda a informação, quer se trate de voz, mensagens de texto, imagens, ficheiros ou videoconferência. Esta visão, que inicialmente parecia um avanço relacionado unicamente com o setor das tecnologias e das comunicações, transformou a maior parte dos setores e das empresas do mundo em apenas de 20 anos.

Por exemplo, a indústria discográfica ignorou este fenómeno, não identificando que este protocolo permitiria implantar serviços de transmissão de ficheiros entre pares, colocando em cima da mesa um novo canal de distribuição e venda de música, permitindo o aparecimento de empresas como Napster, Itunes e Spotify e, como resultado, a transformação de toda a indústria da música e a hecatombe da indústria discográfica.

“Já não é suficiente  segmentar as mensagens por perfis socio-demográficos complexos definidos, também é preciso saber comunicar a mensagem adequada”

Nos últimos anos, o incremento da capacidade de computação, armazenamento, transmissão de informação e, por outro lado, a poupança de custos resultante, permitiram que aparecessem nas nossas vidas vários fenómenos tecnológicos, que estão a transformar, em grande medida, a sociedade e os setores económicos.

Tecnologias como a aparição e a implantação do celular, ou a realidade virtual, que colocam à disposição do utilizador espaços hiper-pessoais, obrigam a que a comunicação seja particularizada não somente no indivíduo, mas também no momento e no lugar em que este se encontra. Já não basta segmentar as mensagens por perfis socio-demográficos complexos definidos, também é preciso saber comunicar a mensagem adequada ao momento em que o receptor recebe a comunicação.

Receber um anúncio no celular de uma reserva de hotel, com características similares às que o utilizador normalmente procura quando vai de viagem, de trabalho, quando o que realmente procura é um hotel para passar as férias com a família, em lugar de satisfazer as suas necessidades como cliente, pode resultar inclusive “molesto”, uma vez que o canal é o seu próprio celular, invadindo o seu “espaço privado”. Ao contrário do que acontece quando se transmitem na televisão, um “espaço público”, anúncios em modo broadcast, onde se não nos interessa podemos desconectar um momento, até ao seguinte anúncio ou programa.

“No último lustro, este incremento de capacidades técnicas e o abaratamento dos custos permitiu a maduração, se não o nascimento, de tendências tecnológicas que vieram revolucionar a sociedade”

Neste último lustro, este incremento de capacidades técnicas e o abaratamento dos custos permitiram a maduração, se não o nascimento, de tendências tecnológicas que revolucionaram a sociedade, e permitiram que grandes players como Google, Amazon e Microsoft, com as suas plataformas de serviços na nuvem, “democratizem” o seu uso.

Todos os setores foram ou serão afetados, e o da comunicação não é alheio a estas mudanças. Um bom exemplo são estas cinco grandes tendências tecnológicas:

1) Inteligência Artificial: chatbots e Assistentes virtuais que permitem “humanizar” as conversações que um interlocutor quer manter conosco, permitindo-nos identificar as suas necessidades para poder responder-lhes com a informação adequada.

Também nos permite utilizar novos dispositivos, como os altifalantes inteligentes, para poder ativar outros canais de comunicação com os nossos grupos de interesse.

2) O armazenamento massivo de dados, ou big data, junto com o incremento da capacidade de computação, graças aos avanços em Hardware dos servidores e da computação distribuída (capacidade dos ordenadores de trabalhar de forma conjunta numa mesma tarefa), permite-nos obter e armazenar a informação que os nossos grupos de interesse nos transmitem de forma direta, ou indireta, e analisá-la para, por exemplo, poder identificar alertas precoces, e mesmo utilizar modelos preditivos para prevê-las e poder pôr em marcha ações que mitiguem, amplifiquem ou promovam os fatos, em função dos nossos objetivos, mesmo antes que ocorram.

Estas tecnologias também nos podem ajudar a identificar tendências latentes nas nossas comunidades, permitindo-nos anteciparmo-nos e liderar as transformações necessárias para cobrir essas necessidades.

3) A aparição da tecnologia Blockchain coloca à disposição das companhias canais para a gestão da informação transparentes e rastreáveis, com mecanismos que asseguram a integridade e a veracidade dessa informação.

4) As novas redes de comunicação 5G, que irão permitir que as tecnologias “IoT” (Internet das Coisas) se desenvolvam, permitindo que, como se prevê num futuro próximo, tenhamos mais de 20 mil milhões de dispositivos conectados à rede. Dispositivos que serão novos canais de transmissão e recepção de informação e de dados e, por isso, canais de distribuição das nossas mensagens.

“Necessitamos equipas multidisciplinares (…) que tenham um ponto de vista diferente do convencional, que entendam o negócio do cliente  e o desafiem, permitindo-lhe antecipar-se a esta voragem de mudanças contínuas”

5) Por último, a Realidade Virtual, que embora possamos considerar menos influente atualmente, revolucionará seguramente o setor da comunicação, tendo em conta que a evolução das capacidades tecnológicas não é sequencial, e sim exponencial (posto que cada avanço parte das bases criadas no período anterior). Atualmente já existem companhias que utilizam esta tecnologia para melhor os serviços de formação de porta-vozes, por exemplo, mas no futuro a realidade virtual estabelecerá novos canais e formatos de comunicação entre as companhias e os seus stakeholders.

No nosso sector, da consultoria de comunicação, todos estes transformadores nos fazem também conviver neste entorno VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo), em que não só temos que transmitir ao nosso cliente os produtos e serviços estandardizados e comoditizados que antes resolviam as suas necessidades, e em que os nossos clientes esperam que nos antecipemos e adaptemos com soluções adequadas aos seus problemas e necessidades, cada vez mais complexos.

Como afirmou Linus Torvards, “a era das soluções simples para problemas simples acabou”, e agora necessitamos equipas multidisciplinares, que combinem a comunicação, a estratégia, o bigdata e a Inteligência Comercial, a tecnologia e a inovação disruptiva, possam oferecer resultados desafiantes, sempre desde uma perspetiva diferente da convencional, que entendam o negócio do cliente e que o desafiem, permitindo-lhe antecipar-se a esta voragem de mudanças contínuas.

Adolfo Corujo
Sócio e Chief Strategy & Innovation Officer de LLYC
Sócio e Chief Strategy & Innovation Officer de LLYC. Especialista na gestão da reputação e do negócio no contexto da disrupção digital. Nos seus vinte anos de trajetória profissional, colaborou no desenho e execução de projetos nas áreas da construção, da defesa e da promoção da identidade de várias multinacionais em Espanha e na América Latina. No âmbito académico, colabora com escolas de negócio e universidades de ambos os continentes, tanto na investigação como na formação dos campos da estratégia, inovação, identidade digital e gestão da mudança. Publicou recentemente o seu primeiro livro, com o título “Comusicación”.
Daniel Fernández Trejo
Diretor de Tecnologia de LLYC
Diretor de Tecnologia de LLYC. Atualmente é o responsável da Unidade de Negócio de Tecnologia e CTO da Companhia a nível global. Trabalhou durante 13 anos no desenho, implantação e lançamento no mercado de plataformas e serviços de Internet multidispositivo, área em que desenvolveu grande parte da sua carreira, trabalhando com equipas internacionais e dinâmicas, destacando-se pela sua capacidade de gestão e de coordenação, liderança e trabalho em equipe. Daniel incorporou-se em 2011 a LLYC como Diretor de Contas da Unidade de Negócio de Comunicação Online, e em 2017 foi nomeado CTO Global da Companhia. Durante estes anos de trabalho em LLYC, colaborou com empresas como Enagas, Cepsa, Gonvarri Steel Industries, Bertelsmann, L’Oréal e Acciona, entre outras.

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