UNO Novembro 2019

Comunicação exponencial para uma mudança de época

Dedico-me profissionalmente à inovação há mais de 15 anos. É certo que o que entendíamos como “inovação” há 10 anos hoje já não o é, e é bem provável que o que hoje chamamos inovação não o seja dentro de três ou quatro anos, se não antes. Durante esta longa década e meia de trabalho em projetos de inovação corporativa, constatei uma mudança notável, não tanto sobre o quê e como aplicamos a inovação, mas sim sobre porque devemos inovar.

Enquanto, há alguns anos, uma estratégia de inovação era algo quase ornamental, supérfluo, como uma excentricidade de luxo que apenas alguns privilegiados se podiam permitir, hoje já ninguém questiona o “imperativo” de inovar, necessidade mais ou menos urgente e transversal a todas as indústrias. Existem mostras suficientes de que aquelas empresas que não tenham abraçado de maneira comprometida a inovação, têm um futuro (quando não um presente) muito complicado: não é necessário recordar a ninguém os casos de Kodak, Nokia, Blockbuster, Sears, ToysRus, ou, mais recentemente, Thomas Cook e Forever21, para não mencionar as dezenas de títulos de revistas e jornais que todos reconhecemos como vítimas desta transformação digital, e que sucumbiram à disrupção causada pela Uberização ou a Amazonificação dos seus setores. Teria sido diferente o seu destino se tivessem incorporado a inovação aos seus planos estratégicos ou às suas operações, e à cultura das suas equipas? Nunca o saberemos.

“O desafio de harmonizar as atividades de exploração e experimentação com as de exploração eficiente dos recursos encontra uma fórmula de eficácia provada na colaboração através de dinâmicas de inovação aberta”

Não se trata de uma época de mudanças, mas sim de uma mudança de época, em que as velhas regras, os velhos mapas parecem não servir para os novos tempos. O que podemos fazer perante esta ameaça? Ameaça ou oportunidade? Este é, provavelmente, o primeiro dilema. Um provérbio chinês milenário diz que “quando sopram ventos de mudança, uns constroem muros, e outros moinhos”. Esta é uma maneira muito poética de expressar as possíveis atitudes  perante este novo cenário. O fato é que os ventos de mudança sopram com força, em rajadas, como um furacão, fazendo voar pelos ares os andaimes estruturais de indústrias e sociedades: mudança tecnológica, exponencial e vertiginosa; mudança política, na intersecção de populismos e novas propostas (tanto á esquerda como à direita, e forças desintegradoras de anteriores consensos); cambio demográfico, com a jubilação dos baby boomers e a chegada ao mercado profissional de millenials centenials apetrechados com novos valores e atitudes; mudança económica, com novos modelos de negócio, baseados na imediatez do desfrute da experiência, e no desapego da propriedade material… Mudanças carregadas de enorme energia, para os que souberam construir os moinhos para aproveitá-la, ou foram capazes de derrubar os muros mais altos, como fizeram Dorian ou Lorenzo (destruidores furacões de nível cinco da temporada 2019). Alguém falou de mudança climática?

Podem realmente afetar estas mudanças uma indústria tão estabelecida como a da comunicação? A pergunta não poderia ser mais retórica. Onde estão as audiências a que antes chegávamos, tão efetivamente segmentadas por canais e horários? Quais são as fontes genuínas e legítimas de informação, perante o ceticismo generalizado pela avalancha de memes virais irrelevantes e as fake news disfarçadas de pós-verdade sensacionalista, cujo único objetivo é conseguir um clique incauto, para poder colocar uma cookie noutro dispositivo que rastreie a nossa atividade para continuar a alimentar esses data-lakes insondáveis com betabytes de dados? É possível estar entre os que vão fazer com que as coisas aconteçam, em lugar de entre aqueles a quem as coisas vão simplesmente acontecer Como preparar-se, efetivamente, para este “tsunami exponencial” sem arriscar o negócio que atualmente continua a ser a chave para a geração de recursos?

O maior desafio de qualquer empresa, independentemente do seu tamanho, é encontrar um equilíbrio entre explorar os recursos de que dispõe (talento, capital e tempo) e explorar novos modelos de negócio ou novos conceitos, expondo-se com frequência a resultados incertos. Até onde é prudente experimentar nestas viagens exploratórias, sem comprometer a rentabilidade e as expetativas de acionistas e diretórios? É bem sabido que quase todos os modelos de retribuição incorporam incentivos à obtenção de resultados certos, seguros, mensuráveis e previsíveis, algo ontologicamente incompatível com a inovação. Parafraseando Einstein, “quando estamos inovando, não sabemos o que estamos a fazer”. Este desafio de harmonizar as atividades de exploração e experimentação com as de uma gestão eficiente dos recursos encontra uma fórmula de provada eficácia na colaboração, através de dinâmicas de inovação aberta. A crescente relevância e protagonismo que os hubs de inovação, autênticos ecossistemas de biodiversidade empreendedora, têm vindo a adquirir, obedece à simbiose, ou, em linguagem corporativa, win/win, para os seus participantes, em que a transferência de melhores práticas entre os seus respetivos e especializados protagonistas permite que o coletivo se beneficie sem ter que ceder os seus próprios recursos. A aceleração exponencial que tecnologias como a robótica, os drones, os veículos autónomos, a energia fotovoltaica, a genômica e a manufatura aditiva (a impressão em 3D), obedecem tanto à conhecida Lei de Moore, como às plataformas de colaboração recíproca base da na confiança e no “código aberto” (Open Source), sem barreiras de tempo e de espaço. No âmbito da comunicação e das R. P., são tecnologias como a realidade virtual (cada dia mais integrada na realidade aumentada, redefinida como realidade estendida), e a Inteligência Artificial alimentada pelo big data, que converte estes dados em conhecimentos e mensagens através de novos dispositivos, que se comunicam conosco através de interfaces de linguagem natural, dados gerados por uma crescente rede de dispositivos interconectados (Internet das Coisas, ou IoT, do inglês Internet of Things) e essa tecnologia, hoje ainda desconhecida e ignorada, mas que promete transformar como nenhuma o fez anteriormente as estruturas de confiança das nossas sociedades: a cadeia de blocos encriptada e descentralizada que conhecemos como Blockchain.

Nacho Villoch
CEO de Kamiwaza 2020
CEO de Kamiwaza 2020. Licenciado em Direito e formado em marketing internacional, possui vários diplomas de pós-graduação (IESE, IE, Columbia) e viveu e trabalhou nos 4 continentes (desde Singapura e Hong Kong ao Paraguai e à Bolívia, passando por Lisboa, Nova Iorque e Miami) ocupando postos diretivos na indústria financeira; Comunicador todo o terreno, Nacho Villoch é um ativo gerador de conteúdos sobre a comunicação da Inovação, e o seu reverso, a inovação em comunicação, atividade a que se dedica profissionalmente há mais de quinze anos, e em que goza de uma contrastada reputação.

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