UNO Novembro 2014

Mobilidade e conhecimento: eixos de inovação ibero-americana

07_2A próxima Cúpula de Veracruz constitui, indubitavelmente, um encontro de grande transcendência, quiçá maior do que as anteriores, e isso devido ao processo de renovação que o sistema de cooperação ibero-americano está experimentando. Estamos em um momento que é determinado pela emergência econômica de grande parte dos países, pela consolidação democrática, pelo notável declínio da pobreza e pela surgimento da classe média que aspira melhorar – ou, pelo menos, manter – seu status. Esses fatores têm redefinido a percepção geoestratégica da Ibero-América, cada vez mais atraente para os mercados asiáticos, gerando a abertura de novos circuitos financeiros, culturais, migratórios e tecnológicos.

Neste cenário, o princípio segundo qual a riqueza de um país está no investimento no capital humano, ligado às demandas de formação da classe média, tornam particularmente oportuna questões – de caráter educacional e cultural – que serão abordadas na Cúpula de Veracruz. O conceito da inovação introduzida vem ao encontro de um foco empreendedor que vai além das tradicionais abordagens pedagógicas e cognitivas, obviamente imprescindíveis. E é nas economias do século XXI que a inovação converteu-se no principal motor do crescimento e no braço da competitividade. Isso explica o compromisso sustentado da China, dos EUA e da União Europeia, apesar das limitações da crise, embasado na aplicação da I+D sobretudo, e a precisa aposta do setor privado em investir em conhecimento e tecnologia como fonte de valor agregado e garantia de retorno econômico. Vai além do debate enfrentado pelos “keynesianos da inovação”, frente àqueles que exigem maiores incentivos para as empresas, a potencialidade do assunto aliada à internacionalização do comércio: é através dela que se canaliza a transferência de conhecimento, se multiplica a difusão tecnológica e se maximizam os benefícios, não só em matéria econômica, mas também em termos criativos, sociais e de bem-estar. Basta pensar nos benefícios para a saúde que a biotecnologia aplicada comporta ou avaliar o impacto da revolução das telecomunicações na indústria cultural. Claro, a rentabilidade de inovação tem propiciado que certos governos desenvolvam práticas fraudulentas (infringindo direitos de propriedade intelectual) ou intervencionistas (impondo condições protecionistas a empresas estrangeiras), visando retornos de curto prazo, a ponto de pular o passo mais árduo e decisivo: alcançar a própria geração de conhecimento.

“A potencialidade da inovação contida na internacionalização do comércio: promove a transferência de conhecimentos e multiplica a difusão tecnológica.

07Neste ponto é onde se aprecia a importância dos promotores da ciência: as universidades e os centros de pesquisa. No denominado triângulo do conhecimento, onde se reúnem os esforços dos governos, das empresas e das instituições acadêmicas, a estas últimas corresponde o trabalho crucial de produzir e validar os avanços científicos que conduzem à introdução de novos dispositivos ou aplicações no mercado: um processo que muitas vezes leva o “efeito multiplicador” que os usuários outorgam, democratizando a inovação. Assim como no mercado empresarial, o financiamento público da I+D é objeto de um debate que se sobrepõe ao da presença de corporações privadas na construção do conhecimento. Não obstante, sem diminuir a relevância do mesmo, o foco da questão foi deslocado pelas oportunidades que – de novo – permitem a internacionalização.

Não parece coincidência que as melhores universidades Ibero-americanas, de acordo com o último ranking QS, estejam em países que recebem o maior investimento estrangeiro: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru. Tampouco parece ser a ênfase que, em paralelo, estão colocando seus governos em programas de intercâmbio exterior, entre os quais se destacam aqueles criados pelo Brasil e Equador, ou a Plataforma de Mobilidade Acadêmica da Aliança do Pacífico, uma espécie de Erasmus intra-regional: precisamente a implementação de um Erasmus ampliado a toda a Ibero-América constitui um dos pontos fortes da agenda de Veracruz. Cabe salientar que este modelo não serviu apenas para fortalecer a consciência da cidadania na Europa, mas também favoreceu a articulação de um espaço científico compartilhado e, igualmente importante, impulsionou a circulação de trabalho comunitária. Assim, a mobilidade universitária – na qual por certo é habitual que os agentes públicos e privados somem forças – é no âmbito acadêmico-científico o que a transferência tecnológica é no âmbito empresarial, um vetor que repercute positivamente a inovação, a prosperidade e a empregabilidade em nossas sociedades do conhecimento.

“A mobilidade universitária é no âmbito acadêmico-científico o que a transferência tecnológica é no âmbito empresarial, um vetor que repercute de inovação, prosperidade e empregabilidade.

Vinte três anos após a inauguração do sistema de Cúpulas, em que a Espanha teve um papel chave no contexto de expansão da sua ação externa, o nosso país tem a obrigação de contribuir para a atualização em um mundo transformado, trazendo ideias frescas – orientadas – para intensificar as redes transatlânticas de talentos e premiar a criatividade e o empreendedorismo – assim como sua experiência de mediação de nação europeia. Retomando o horizonte Veracruz, uma das tarefas inevitáveis​​, certamente, passa por aproveitar o nosso grande valor econômico – o espanhol – para estabelecê-lo já não como um ativo cultural, mas como um veículo de comunicação científico-técnico e, portanto, do comércio internacional. É nossa inovação pendente.

Jesús Andreu Ardura
Diretor de Fundação Carolina
Licenciado em Direito pela CEU San Pablo, pertence à XXII promoção do Corpo Superior de Administradores Civis do Estado. Desde 1987 tem desenvolvido sua carreira no campo das relações internacionais, tendo sido Diretor Geral de Comunicação Internacional da Secretaria de Estado de Comunicação e Conselheiro de Imprensa na Embaixada de Lisboa. Entre 2007 e 2012 foi membro do Conselho de Administração da Corporação RTVE e desde abril de 2012 é Diretor da Fundação Carolina, instituição presidida pelo Rei da Espanha, que fomenta as relações educacionais, culturais e científicas entre a Espanha, Ibero-América e em outras partes do mundo.

Queremos colaborar com você

Qual o seu desafio?

Quer fazer parte da nossa equipe?

Quer que a LLYC participe do seu próximo evento?