UNO Maio 2016

Sonhando hoje as cidades de amanhã

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As grandes cidades de todo o mundo estão sendo forçadas a definir políticas de restrição de o tráfego por conta de seus níveis alarmantes de poluição. E, cada vez mais, vozes exigem uma mudança significativa no modelo de mobilidade urbana. Uma mudança que deve ser corajosa e começar antes que seja tarde demais. Uma mudança que deve envolver cidades, empresas e cidadãos e que tem como objetivo dissuadir a população a utilizar seus veículos particulares, a principal causa dos problemas ambientais que enfrentamos globalmente.

Cada vez somos mais os que sonhamos com uma cidade diferente, com um sistema de transporte multimodal no qual convivam o transporte público e as novas soluções de mobilidade. Falamos de serviços como o ridesharing, carsharing ou bikesharing, que, combinados com uma política de planejamento urbanístico centrada nas pessoas e no respeito ao meio ambiente, são a base do novo paradigma da cidade sustentável. Essa cidade que imaginamos pode parecer um sonho, mas também parecia impossível há apenas cinco anos poder nos deslocar pela cidade acionando com apenas um toque um botão de nosso smartphone.

Cada vez mais vozes exigem uma mudança significativa no modelo de mobilidade urbana

07_1Nunca antes fomos capazes de adaptar a oferta à procura em tempo real, de maneira que os sistemas tendiam a ser ineficientes em decorrência do excesso ou da falta de recursos. Atualmente, a tecnologia oferece às cidades uma vasta gama de alternativas de transporte eficientes e econômicas. Aplicações como o Uber já provaram ser eficazes na redução do uso de veículos particulares. Um estudo realizado pela Copenhagen Economics sobre o impacto do ridesharing na cidade de Estocolmo mostrou que sua correta implementação conseguiria reduzir 37 mil viagens de carro a cada ano com apenas 3 mil carros, o que significa uma redução anual de 49 mil toneladas de dióxido de carbono e a remoção de 18 mil carros ativos na cidade.

Mas este é apenas o começo. A evolução natural do ridesharing são os serviços de carpooling em tempo real, como o uberPOOL. Trata-se de um serviço que permite àqueles passageiros que realizam caminhos coincidentes em determinado momento poder compartilhar o trajeto. Desse modo, continuamos a democratização do acesso ao transporte, porque o custo é compartilhado e conseguimos reduzir os níveis de congestionamento e a poluição na cidade – porque o número de carros necessários para o transporte das mesmas pessoas é o do total de viagens efetuadas por meio da plataforma. Em apenas oito meses, o serviço obteve redução adicional de mais de 12 milhões de quilômetros percorridos pela cidade, graças à maior ocupação dos veículos, e a diminuição das emissões associadas a isso em 1.400 toneladas de CO2.

Esse atraso regulatório não apenas impede que as cidades desenvolvam modelos mais sustentáveis de mobilidade ligados à tecnologia, mas também limita a capacidade de escolha de seus cidadãos

O uberPOOL já é uma realidade em mais de 50 grandes cidades ao redor do mundo, como Nova York ou Xangai, mas também em capitais europeias como Paris ou Londres. Todos elas promoveram alterações regulatórias que modernizaram sua regulamentação para acomodar os novos serviços digitais. O último país dessa lista foi a Estônia, que aprovou um novo regulamento para dar segurança jurídica aos serviços de partilha de caronas no país.

Enquanto em muitos países essa tendência renovadora está ocorrendo, outras partes do mundo se mostram relutantes em promover mudanças regulatórias que se adaptem e deem respostas a essa nova realidade tecnológica. Assim, enquanto a Lituânia está trabalhando em um projeto piloto em colaboração com o Uber e a Cidade do México aprovou recentemente um regulamento específico para os serviços de ridesharing, na Espanha crescem as limitações à atividade para essas plataformas.

Esse atraso regulatório não apenas impede que as cidades desenvolvam modelos mais sustentáveis de mobilidade ligados à tecnologia, mas também limita a capacidade de escolha de seus cidadãos, ao mesmo tempo em que bloqueia uma grande oportunidade para a criação de emprego.

O momento é agora. Se entre todos não formos capazes de promover regulamentações inteligentes, que tirem vantagem desse processo de transformação digital, o fosso tecnológico entre os países será cada vez maior. Um abismo tecnológico que levou muitos especialistas a diferenciá-los em dois tipos de países: os digitais e os tecnofóbicos. Talvez devêssemos perguntar onde cada um de nós quer estar.

Mas voltemos a sonhar por um momento. Imaginemos que os Estados vão rever seus regulamentos e poderemos avançar em direção a modelos inovadores de ridesharing, carsharing e carpooling. Imagine que já não precisaremos possuir um carro, porque teremos certeza de que, de qualquer ponto da cidade e em qualquer momento do dia, teremos acesso a uma alternativa de transporte acessível. Imaginemos, além disso, que reduziremos também os níveis de poluição e de congestionamento, fazendo de nossas cidades um lugar melhor para viver. Imagine, por um momento, que a cidade do futuro é possível.

Carles Lloret
Responsável pelo Uber no sul da Europa
É natural de Valência, graduado em engenharia industrial, com vasta experiência no mundo das startups, depois de haver fundado uma plataforma que permite a troca de documentos universitários. Estudou seu MBA na IESE Business School antes de iniciar a carreira como consultor estratégico em telecomunicações e tecnologia, desenvolvendo vários projetos na Europa, no Oriente Médio e na África. Em 2014, Lloret se juntou ao projeto do Uber e, a partir de então, tem coordenado e supervisionado as operações na Espanha. Desde 2015, é o responsável pela companhia no sul da Europa, incluindo Espanha, Itália, Grécia e Portugal.

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