UNO Julho 2017

EUA e México, um comércio através da fronteira

Quando pensamos na indústria automobilística mexicana, imaginamos uma linha de produção onde os automóveis são fabricados. No entanto, poucas vezes consideramos que a indústria engloba mais que carros e também inclui caminhões de carga, ônibus de passageiros e, claro, toda a cadeia de abastecimento que alimenta a indústria.

 

A maioria das pessoas sabe – ou tem alguma noção – que o México é um grande produtor de automóveis em nível mundial. No entanto, poucos sabem que, em 2016, o México foi classificado como o sexto maior produtor de veículos pesados e exportador número um de caminhões de carga no mundo.

 

Dos 3,8 milhões de veículos pesados produzidos em 2016, a China produziu 50,5%; o Japão, 13,4%; a Índia, 9%; a Alemanha, 8,2%, os EUA, 7%; o México, 3,9%; a Coréia do Sul, 2,5%; o Brasil, 2,1%; a Indonésia, 1,8%; e a Rússia, 1,6%. Como região, a Ásia ampliou sua presença, passando de 75,5% para 78,9%, enquanto a América do Norte diminuiu a sua cota de 13,9% para 10,9%. Estes números demonstram que a coordenação no continente asiático permitiu-lhes avançar, mas também que, como indústria automotora de veículos pesados, devemos potencializar a região da América do Norte em comparação a outras regiões do mundo.

 

A produção de veículos de carga é um exemplo consumado da alta integração comercial existente entre os dois países. Os caminhões mais vendidos do mundo são produzidos no México e são movidos por motores fabricados nos Estados Unidos. No México, não se fabricam motores para automóveis de carga e, como o motor, existem muitas peças de automóveis que, em sua elaboração, cruzam várias vezes a fronteira e terminam como o produto final nos EUA, sendo grande parte do conteúdo desse mesmo país. Os tão mencionados déficits comerciais devem ser analisados de maneira profunda, à luz de exemplos como estes, citados anteriormente.

 

Atualmente, o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA) para veículos pesados considera um mínimo de 60% do conteúdo regional, sendo uma das porcentagens mais elevadas de toda a indústria. Tem sido dito que o México não permitiria a implementação de tarifas ou cotas, por isso, o mais provável é que grande parte da discussão se concentre no conteúdo regional, pelo menos na fabricação de produtos manufaturados.

 

Vários países latino-americanos estão em posição muito vulnerável no caso de possíveis desvios nas políticas comerciais dos Estados Unidos, pois mais de 40% das exportações de todos os países da América Central e da República Dominicana são para os Estados Unidos.

 

Neste sentido, parece importante destacar dois pontos retirados dos cinco princípios e objetivos sob os quais poderiam se buscar a negociação do NAFTA, anunciada pelo presidente Peña Nieto há algumas semanas:

  1. “Preservar o livre comércio, os produtos isentos de qualquer tarifa e cotas e fortalecer as cadeias de produtividade e fornecimento norte-americanos”.
  2. “Trabalhar por uma fronteira que nos una e não uma que nos divida… investir mais em infraestruturas fronteiriças e reduzir os tempos de espera dos cruzamentos”.

Dentro deste último tema, em particular, agilizar os cruzamentos têm um efeito win-win para os dois países, uma vez que este potencializaria, consideravelmente, a produtividade para a indústria; e se concentraria em uma parte importante do NAFTA, como são os serviços, especialmente os de transporte transfronteiriço, os quais não têm sido desenvolvidos desde a integração, iniciada há 25 anos.

 

No caso das negociações serem infrutíferas e o México ou os EUA denunciarem ou se retirarem do NAFTA, entrariam em vigor as tarifas registradas pelos Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio, sendo 4% para veículos de carga, 25% para caminhões unitários e 2,5% para ônibus. Outras possibilidades, como o Border Tax Adjustment (BAT), a cada dia perde mais força.

 

Desde que a renegociação do NAFTA foi anunciada, as especulações sobre seu futuro têm variado a cada dia, especialmente ao ouvir os pronunciamentos das autoridades norte-americanas que, gradativamente, têm moderado seu discurso, muito provavelmente graças ao fato de estarem compreendendo melhor a integração que temos como região, que embora não seja perfeita, sim, é benéfica para as duas nações.

 

A volta da retórica nacionalista e xenofóbica, com sinais de fragmentação e polarização em diferentes partes do Ocidente, prejudica os princípios que o sistema multilateral apoia e que a América Latina defende com voz uníssona.

 

A negociação levará mais de um ano e o ponto de partida será a notificação do Executivo ao Congresso dos Estados Unidos, o que seguramente já se conhecerá quando estas linhas forem publicadas.

 

Durante 25 anos temos atuado sob este regime e o novo NAFTA definirá o futuro do comércio exterior na região. A maior integração comercial dos três países que conformam a América do Norte só pode fazer-nos mais competitivos e tornar as nossas economias mais fortes. Uma negociação que vá além das conjunturas eleitorais esperadas pelos Estados Unidos e pelo México devem ser a prioridade de todos os envolvidos.

Miguel H. Elizalde
Presidente-Executivo da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, Caminhões e Tratores, A.C. (ANPACT)
Engenheiro Industrial e de Sistemas formado pelo Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey (ITESM) e Mestre em Administração Pública pela Universidade de Syracuse, Nova York. Atuouno setor privado como pesquisador, professor e consultor, enquanto no campo de Administração Pública assumiu posições tanto no nível estadual quanto federal. Atualmente está à frente da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, Caminhões e Tratores, A.C. (ANPACT), ocupando os cargos de presidente-executivo, membro do Conselho da Confederação de Câmaras Industriais dos Estados Unidos Mexicanos (CONCAMIN) e presidente da Comissão de Transportes da mesma organização. [México]

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