UNO Outubro 2017

As cidades do futuro e o futuro das cidades

Desde a antiguidade, o ser humano se agrupou em zonas estratégicas para sobreviver e, dependendo do clima e dos recursos, essas culturas se definiram e definiram suas cidades.

As cidades começam a surgir perto do mar ou de rios, o que lhes dá acesso a vias de comunicação e recursos naturais. Outras vezes, emergem em montanhas ou lugares isolados para poder obter proteção de ataques militares.

Na maioria dos casos, as culturas que conhecemos cresceram ou se estagnaram devido ao lugar onde nasceram. Alguns migraram procurando melhores condições de vida, outros se adaptaram ao seu habitat, conseguindo crescer no mesmo lugar.

O clima é um fator determinante, pois obriga os que se encontram em climas extremamente frios a se prepararem para sobreviver, trabalhando intensamente durante os meses calorosos para se abastecer e se proteger durante o inverno, e desenvolvendo residências adequadas para responder ao mau tempo. Por outro lado, os indivíduos de climas calorosos normalmente se desenvolveram menos pelo acesso mais fácil a alimentos e recursos, suas casas não requerem grande isolamento e a disponibilidade de materiais para a construção é abundante. Isso faz com que os grupos que vivem em lugares frios se desenvolvam mais intelectualmente.

A fé e a religião também foram outros motores da cultura e desenvolvimento das cidades. Sempre dirigidos por um governo, seja ele militar ou religioso, empreenderam obras de grande magnitude em nome de um deus ou líder militar, gerando assim grandes períodos de guerras, invasões e mudanças, crescimentos e desaparecimento de cidades; tudo em nome da fé ou da vaidade e do ego dos governantes.

A humanidade e as cidades foram evoluindo constantemente, e a cada era geraram-se mudanças que fizeram delas o que são hoje. Em resumo, tudo começou com o uso do fogo, depois o uso dos metais, então veio a era industrial, até chegarmos à era cibernética, nos dias de hoje.

Falar da atualidade implica falar do futuro, mas com a velocidade que estão ocorrendo esses progressos tecnológicos, torna-se muito complexo prever o que acontecerá com a humanidade e as cidades do futuro.

Falar da atualidade implica falar do futuro, mas com a velocidade que estão ocorrendo esses progressos tecnológicos, torna-se muito complexo prever o que acontecerá com a humanidade e as cidades do futuro

As comunicações, a informação e a tecnologia desenvolveram cidades inimagináveis, no entanto, grande parte da população mundial continua vivendo na extrema pobreza e em cidades muito precárias. A desigualdade de recursos, somada aos interesses dos mundos econômicos, das bolsas de valores bem como militares distanciaram e exploraram esses setores da população, privando-os de todos os benefícios da tecnologia atual.

Antes desse boom tecnológico, as pessoas moravam onde podiam e se transportavam das suas casas ao trabalho e vice-versa; hoje, existe a possibilidade de estar virtualmente em outro lugar sem importar em que parte do mundo você está. Isso poderia mudar a forma como concebemos a cidade. Talvez, seja uma forma de distanciar-nos da loucura do trânsito, das multidões, dos engarrafamentos, das horas de transporte para chegar ao destino, da poluição, do estresse, da hostilidade e, provavelmente, da possibilidade de ver o campo e áreas mais distantes das cidades como uma opção para buscar formas mais ecológicas e restaurar, assim, a ordem natural do planeta.

Cabe chamar atenção a outra questão: a superpopulação. Esse é um dos maiores problemas da atualidade, e se não pensarmos em investimentos mundiais para solucioná-lo, esbarraremos (se é que já não aconteceu) em um problema ainda maior. Porém, há uma opção que resolveria não só esse, mas os problemas da humanidade: a educação.

Hoje, contamos com instrumentos tecnológicos para levar a educação a todos os cantos do planeta, através das comunicações. Através da educação, é possível conscientizar sobre as situações reais que enfrentamos, tanto no que diz respeito às grandes cidades quanto ao campo, bem como à superpopulação. Quem sabe assim podemos enfocar mais na busca pela felicidade através da cultura e da apreciação da natureza e suas maravilhas, em vez do materialismo e do consumismo irracional.

O que também complica a previsão do futuro é o crescimento exponencial da tecnologia, que não demora a se tornar um ente independente por meio da inteligência artificial. Imagens de um mundo apocalíptico surgem ao pensar em androides assassinos governando-nos e aniquilando-nos. Esperamos que não seja assim, mas, por lógica natural, tendemos a ser pessimistas ao pensar no futuro e a verdade é que há motivos para isso.

Devemos admitir que o ser humano, como parte de um universo em equilíbrio, tem uma parte negativa e uma positiva, a primeira nos mostra essa faceta egoísta e ambiciosa do poder, que gerou guerras, semeou ódio, destruição e manteve oprimida grande parte da população em prol dos seus próprios interesses. Já a segunda é a que constrói, a que ajuda, a que inspira e nos eleva cultural e espiritualmente; através da educação, essa é a que devemos promover.

Sempre existiram arquitetos e urbanistas visionários de incríveis utopias urbanas, mas eram isso: utopias e ficção científica. Chegou a hora de buscar nessas propostas futuristas projetos que se adaptem ao nosso futuro ou de procurar novas ideias baseadas em todo o conhecimento adquirido nesse último século, implementando novas formas de gerar energia e reciclar absolutamente tudo, recuperando a água potável. Nesse sentido, existem hoje plantas de dessalinização, projetada para os poucos que usam energia solar, que permitiria a manutenção de cidades nos lugares mais remotos do planeta.

Para concluir, acredito que já temos as ferramentas para poder solucionar os problemas atuais que afetam as cidades. Também sei que seria difícil planejar em longo prazo devido à velocidade do crescimento da população, bem como aos progressos tecnológicos, por isso, temos que resolver essa questão de uma forma global, sem interesses políticos e econômicos, somente pensando no bem comum. Utopia, talvez.

Já temos as ferramentas para poder solucionar os problemas atuais que afetam as cidades. Sei que seria difícil planejar em longo prazo devido à velocidade do crescimento da população, bem como aos progressos tecnológicos

Gerard Pascal
É sócio fundador e diretor da PASCAL ARQUITECTOS
Nasceu em Montevidéu, no Uruguai, em 1954 e mudou-se para o México em 1972. Gerard Pascal é arquiteto formado pela Universidade Ibero-americana. Em 1979, fundou, junto com o seu irmão, Carlos, a Pascal Arquitectos. Foi várias vezes palestrante no México, Estados Unidos, China, Europa e América do Sul. É membro de diversas associações internacionais como a IIDA (International Interior Design Association), AMDI (Associação Mexicana de Designers de Interiores) e SMI (Sociedade Mexicana de Interioristas). Membro Profissional Associado da IFI (International Federation of Interior Architects/Designers) CIDI Fellow member. [Uruguai]

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