UNO Junho 2021

Fórmulas criativas

A criatividade para muitos é um dom, algo inato que vem de fábrica: ou somos criativos ou não o somos. Esta crença se aplica também ao mundo laboral, categorizando trabalhos como criativos, como a publicidade; ou opostos como as finanças. Mas acredito que estas são crenças limitantes que pouco a pouco vão morrendo por sua própria natureza.

Se procuramos “criatividade” na RAE veremos que se trata da faculdade ou capacidade de criar. Muitos autores dizem que é a concreção da imaginação, um passo mais no processo de tornar tangíveis as ideias. Outros falam que é a antessala da inovação, quer dizer, a criatividade é parte do processo de inovação, mas não tem em conta a materialização: protótipo, produção, testing…

Poderíamos dizer que a criatividade é uma competência chave para criar algo novo e por extensão para inovar. Vocês conhecem algum trabalho ou área que não requer criar algo e mais ainda nos tempos em constante mudança nos quais vivemos?

A criatividade é uma das competências mais demandadas, que se pode praticar, e que está presente de forma transversal em todas os setores e âmbitos profissionais.

Um dos principais defensores da desmitificação da criatividade foi Edward de Bono que dizia que o pensamento criativo não é um talento inato, mas uma habilidade que pode ser potenciada, da mesma forma que se podem criar ferramentas para a obtenção de ideias criativas de maneira mais efetiva, como seu famoso “seis chapéus para pensar”.

Se além disso revisamos estudos do World Economic Forum, de consultoras de RRHH ou os que LinkedIn lança cada ano, podemos divisar que a criatividade é uma das competências mais demandadas junto com resolução de problemas complexos e a aprendizagem constante.

Com tudo isto podemos concluir que a criatividade é uma das competências mais demandadas, que se pode praticar, e que está presente de forma transversal em todas os setores e âmbitos profissionais.

Historicamente a criatividade esteve muito vinculada a certos âmbitos como o marketing e a publicidade onde há postos específicos para criativos. Em outros setores, como em tecnologia, o terceiro setor ou na planificação estratégica brilha por sua ausência. Significa isto que não faça falta? Todo o contrário, mas o ponto de partida foi muito diferente, mais de engenheiro, sociológico ou consultor; que levou a orientá-lo de uma outra maneira.

Agora que vivemos em uma época onde além disso da hiperespecialização e os âmbitos isolados em silos, se recompensa e procura perfis multidisciplinares, os neo-generalistas como diria Kenneth Mikkelsen ou talento em forma de T (T-Shaped Talent), com conhecimentos transversais e de âmbitos opostos. Já podemos ver disciplinas claramente mistas como o Employer Branding (RRHH + Comunicação) ou Visualizador de dados (Data + Design).

Os TecnoCriativos conhecem a tecnologia e suas possibilidades com certa profundidade, sem ter que ser técnicos, com uma visão criativa que lhes permite projetar soluções com um enfoque inovador

Neste contexto, a criatividade é um ingrediente de alto valor para gerar estas novas fórmulas profissionais. A continuação, compartilho três que acredito que serão muito relevantes no presente-futuro.

Criatividade + Tecnologia = TecnoCriatividade

A Tecnocriatividade foi um termo que cunhei em 2012 quando trabalhava como CTO na Social Noise, e também contribuíram Fermín Álvarez (CEO e Diretor de Estratégia) e Jacobo Pérez (Diretor Criativo). Nossas campanhas tinham um componente muito digital e necessitávamos pessoas que não somente fossem criativas publicitárias, mas que tivessem conhecimentos tecnológicos para poder jogar com ela de maneira criativa, reinventando usos e dinâmicas. Assim foi como criamos uma máquina de gerar nuvens por cada “like” que se dava a uma página de Facebook ou um confessionário conectado para recolher opiniões sobre o musical de Sister Act.

Obviamente esta fórmula não somente aplica ao marketing e à comunicação. Os TecnoCriativos conhecem a tecnologia e suas possibilidades com certa profundidade, sem ter que ser técnicos, com uma visão criativa que lhes permite projetar soluções com um enfoque inovador. Empreendedores, product managers, innovation managers… que desenvolvem esta fórmula, conseguirão resultados muito potentes e uma vantagem competitiva clara.

Criatividade + Futuros = Design Especulativo

Há uma disciplina que está tendo muito peso no contexto VUCA (Volátil, Uncertain/Incerto, Complexo e Ambíguo) no qual vivemos, e gira em torno a nossa capacidade por antecipar-nos ao futuro, não desde a predição, mas desde a projeção de possíveis cenários que podem dar-se para reflexionar sobre eles e tomar decisões no presente. Alguns falam de Design de Futuros, Prospectiva Estratégica, Estudos de Futuros… Sem entrar nas diferenças de cada um, a chave dos “futuros” não somente radica em um labor exaustivo de investigação ou um trabalho consultor de planificação; mas também na geração de narrativas e artefatos que permitam tornar tangíveis estes futuros e comunicá-los de maneira efetiva.

Desde este prisma, a criatividade exerce um papel central dando lugar ao que poderíamos chamar Design Especulativo ou de Ficção. Uma série como Black Mirror (2011) ou um filme como Her (2014) não deixa de ser uma visão de um possível futuro com uma certa base “científica” se não, não seria ficção científica, mas fantasia.

Um exemplo de artefato especulativo foi o berço com telas criada pela LLYC para a campanha de Screen Pollution de Multiópticas, permitindo materializar um possível futuro e conseguindo assim um maior impacto.

A chave dos “futuros” não somente radica em um labor exaustivo de investigação ou um trabalho consultor de planificação; mas também na geração de narrativas

Criatividade + Impacto Positivo = Inovação Social

Agora que estamos em um ponto de inflexão onde vemos que chegamos aos limites de nosso sistema econômico, a sustentabilidade e o impacto social são dois ingredientes que vão estar presentes em todos os âmbitos. Se os hibridamos com a criatividade obteremos inovação social.

Aplicar a sustentabilidade, a medição de impacto ou os propósitos corporativos de maneira criativa, nos permitirá gerar assim novos modelos de negócio que tenham um impacto positivo e retorno econômico. Esta disciplina é a que estamos potenciando na Innuba, consultora de design estratégico em inovação social, para ajudar a empresas a transformar-se, e onde já há exemplos de empresas tradicionais como IKEA ou de nova geração como Patagónia, que estão sendo autênticos referentes.

David Alayón
Chief Foresight Officer & Co-Fundador de Innuba
Especialista em inovação e em tecnologias disruptivas, com uma trajetória de mais de 15 anos, destacando sua experiência na Inditex como Responsável de Projetos de Inovação. É cofundador e Chief Foresight Officer de Innuba, consultora de inovação social. Ademais é cofundador e sócio de Mindset e Social Noise. Também é docente em escolas digitais e de negócio como Headspring e o Instituto de Empresa; speaker em eventos como TEDx e South Summit.

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