UNO Novembro 2015

União Europeia-América Latina e Caribe: novos desafios

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Os históricos laços políticos, culturais e econômicos entre a Europa e a América Latina e o Caribe (ALC) vem de longa data, mas apenas a partir de 1999, logo após a primeira reunião birregional no Rio de Janeiro, as relações entre a ALC e a União Europeia (UE) adquiriram um caráter mais institucional, convertendo-se em componente substantivo das estratégias políticas e econômicas em ambas as regiões, particularmente em questões econômicas e de cooperação internacional.

Nos últimos anos, percebemos que a relação comercial entre nossas regiões tem sido afetada em consequência da persistente crise econômica europeia, agravada pela crise internacional desencadeada entre 2008 e 2009. No entanto, a América Latina e o Caribe estão interessados em fortalecer vínculos econômicos com a UE.

O aprofundamento das relações econômicas entre as duas regiões deveria ser parte relevante da agenda. Com efeito, hoje em dia, quando os desafios comerciais colocam as regiões no centro do mundo global, a ALC não pode evitar que na reorganização do mapa global geoeconômico, a Europa tenha um peso  muito significativo. Ao mesmo tempo, a diversificação produtiva requerida pela ALC e o aporte científico-tecnológico e as capacidades de investimento europeus que podem contribuir para este objetivo são inevitáveis.

Estamos interessados em ​​estimular os fluxos europeus de investimento europeus e  a aproximação entre empresas europeias e as multilatinas

A UE é a primeira investidora, a principal fonte de Ajuda Oficial ao Desenvolvimento, o segundo maior parceiro comercial e o primeiro importador mundial de alimentos da ALC. O programa da UE para a investigação, inovação, ciência e tecnologia, “Horizonte 2020”, está aberto à participação dos nossos países, assim como o novo “Erasmus Plus”, para a mobilidade estudantil e acadêmica. É preciso explorar plenamente essas oportunidades para melhorar a produtividade e a competitividade.

05Estamos interessados ​​em estimular os fluxos europeus de investimento e a aproximação entre empresas e as multilatinas, as que estão cada vez mais presentes no território europeu. A este respeito, é preciso salientar que o Banco Europeu de Investimento planeja destinar até 2,3 bilhões de euros para projetos de conectividade em nossa região. Esses recursos, juntamente com aqueles previstos pela CAF e o BID, abrem oportunidades sem precedentes para promover o desenvolvimento regional. As áreas de infraestrutura, energia, turismo, universidades e centros tecnológicos poderiam ser beneficiados por financiamentos conjuntos e pela experiência profissional europeia.

Outra área em que podem surgir novas iniciativas têm a ver com os acordos de associação birregionais e inter-regionais. Neste campo, o processo aberto no início do ano 2000 com a assinatura de acordos de associação integral entre a UE e o México, Chile, Peru e Colômbia, bem como com a América Central, ganharam um novo impulso, ao qual se soma a retomada das negociações para um acordo UE-Mercosul. Além disso, em 2014 houve dois acontecimentos significativos: em julho, o Equador e a UE chegaram a um acordo comercial, enquanto em fevereiro, a UE e Cuba restabeleceram o diálogo para concretizar um acordo especial de cooperação para desenvolver o comércio e investimento.

Finalmente, a criação da Aliança do Pacífico (AP), que compreende Chile, Colômbia, México e Peru, com 42 observadores, 13 deles membros da UE, tem servido para estimular um processo de integração latino-americana, em acordo com as novas tendências das relações econômicas internacionais.

A iniciativa do Chile, bem acolhida por seus sócios da AP, de “convergência na diversidade” para criar um espaço para a complementariedade com o Mercosul, para enfrentar necessidades comuns ligadas à conectividade, energia, facilitação do comércio, entre outros, espera que a convergência da região se  fortaleça, podendo relacionar-se melhor com outras regiões, particularmente com a UE.

A América Latina e a Europa se necessitam

As relações em matéria de cooperação também estão evoluindo como consequência da implementação dos oito capítulos temáticos adotados em 2010, a partir dos eixos prioritários das Linhas de Ação de Madri (Ciência, investigação, inovação e tecnologia; desenvolvimento sustentável; meio ambiente, mudanças climáticas, biodiversidade, energia, integração regional e interconectividade para promover a integração e a coesão social; migrações; educação e emprego para fomentar a integração, a coesão social e o problema mundial das drogas) concluídos em 2013, durante a Cúpula de Santiago do Chile, com dois novos capítulos: Gênero e Investimentos. Todas estas questões são de primordial importância para o Chile e, claro, também para toda a região.

A América Latina e a Europa se necessitam. Os atuais momentos de dificuldades econômicas em ambas as regiões serão superados. As diferenças políticas, tanto na Europa como em nossa região, nos convidam a promover a convergência, e não deveriam ser obstáculo para aprofundar nossos vínculos econômicos e de cooperação.

Andrés Rebolledo
Diretor-geral de Relações Econômicas Internacionais no Ministério das Relações Exteriores do Chile
É diretor-geral de Relações Econômicas Internacionais no Ministério das Relações Exteriores do Chile. Economista da Universidade do Chile, pós-graduado em Economia Internacional e Desenvolvimento Econômico pela Universidade Complutense de Madri. No início dos anos noventa passou a ser o encarregado das áreas do México, América Central e América Latina do Departamento América Latina e Integração da Direção Geral de Relações Econômicas Internacionais (DIRECON) e logo, chefe do departamento e diretor de Assuntos Econômicos Bilaterais (2005-2008). Foi nomeado embaixador do Chile no Uruguai (2009) e representante permanente do país frente à Associação Latino-Americana de Integração (ALADI). É consultor na área de Integração e Comércio do BID (2010-2014, EUA).

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