UNO Março 2016

COP 21, meio ambiente e reputação corporativa

 

18_2Um acordo global para lutar contra as alterações climáticas

Terminou a Cúpula do Clima de Paris, na qual representantes de 195 países, além da União Europeia, trabalharam para chegar a um acordo global com o objetivo de lutar contra as alterações climáticas. Durante as duas semanas que durou o encontro, abordou-se a obtenção de um pacto para assegurar que o aquecimento do planeta não ultrapasse os 2 graus no final do século, em comparação com a temperatura registrada antes da Revolução Industrial. E o encontro atraiu um interesse sem precedentes, depois que em 2009, em Copenhague, nenhum acordo tenha sido alcançado.

Um pacto que agora é mais necessário do que nunca, já que a temperatura aumentou 1,02 graus desde os tempos pré-industriais, atingindo um recorde histórico de concentração de CO2 na atmosfera (400 parte por milhão) e 2014 ter sido o ano mais quente já registrado nos últimos 135 anos, quando os registros climáticos começaram.

A cúpula usou o horizonte de 2020, substituindo a segunda fase do Protocolo de Kyoto, e com vocação para chegar a alcançar um acordo que dure até 2050. Uma das mudanças mais importantes foi incluir todos os países, cobrindo assim 100% dos gases de efeito estufa, ao contrário do atual protocolo, que inclui apenas um grupo de países que representam 11% das emissões globais. Em Paris, os representantes políticos também queriam marcar o início do fim do uso de combustíveis fósseis.

Hoje, mais do que nunca, as organizações deverão trabalhar para projetar um posicionamento de compromisso em seus esforços de redução das emissões e de respeito ao meio ambiente 

O COP 21 foi concluído com um acordo vinculativo, em um tom de transcendência histórica. Pela primeira vez o compromisso mundial de “manter o aumento das temperaturas abaixo dos 2 graus àqueles registrados em período pré-industrial e de prosseguir com os esforços para limitar o aumento a 1,5 graus” foi alcançado.

Mas, para além do compromisso, a Cúpula determinou que os países desenvolvidos deverão fornecer apoio financeiro para a reconversão energética dos países em vias de desenvolvimento e a enfrentar fenômenos relacionados às mudanças climáticas, como a intensificação das secas e dos furacões. Não se trata apenas do meio ambiente, fala-se de ação social já que são reconhecidas ilhas vulneráveis ao aumento dos níveis do mar e aos países pobres mais expostos às mudanças climáticas, o direito de obter apoios para “evitar, reduzir ao mínimo e enfrentar as perdas e os danos associados com os efeitos adversos” deste fenômeno.

Uma nova era cooperativa de alcance social e econômico

No entanto, este desafio não será alcançado sem a cooperação entre os países e atores sociais. Nas palavras de Samantha Smith, líder da Iniciativa Global de Clima e Energia do WWF “estamos no início de uma nova era de ação cooperativa por todos os países e em todos os níveis da sociedade”.

E, neste contexto, como implementar o compromisso assumido pelos governos? Que papel têm as empresas? Até que nível os cidadãos podem exigir esse cumprimento? Como as empresas podem atuar como atores sociais e comprometer-se com esta realidade?

O futuro que enfrentamos não tem nada a ver com o mundo que conhecemos. A transparência na gestão e na produção, assim como na sustentabilidade – entendida como a fixação de limites para o crescimento do capitalismo – marcará a agenda corporativa nos próximos anos.

As organizações estarão obrigadas a incorporar a cultura do meio ambiente em todos os seus processos e decisões, a começar pela estratégia – entendendo e aproveitando o novo cenário da chamada low-carbon economy e identificando os riscos das mudanças climáticas na cadeia de produção –, atendendo ao cumprimento local e global das diretrizes derivadas desta nova situação, assim como a captação de investimentos socialmente responsáveis, baseadas no seu compromisso ambiental ou identificando incentivos fiscais ligados à redução de carbono.

Uma nova linguagem para a sustentabilidade do futuro

No entanto, estas iniciativas não serão suficientes se não atenderem aquelas que se referem à reputação. Isto porque, hoje, mais do que nunca, as organizações deverão trabalhar para projetar um posicionamento de compromisso em seus esforços para reduzir as emissões e de respeito ao meio ambiente em geral.

A redução de CO2 torna-se fundamental para alcançar a aceitação da atividade corporativa por parte dos distintos públicos de interesse e isso obriga as organizações a apostarem no território do meio ambiente, adaptado às suas próprias dinâmicas de geração de resíduos, trazendo, por sua vez, suas estratégias diferenciadoras e táticas inovadoras que permitam diferenciar a sua história.

18_1Nada pode ser feito de forma eficaz sem que o CEO se comprometa com a inclusão recorrente da mensagem de sustentabilidade em seu discurso corporativo. Para que este dito relato goze de consistência, a organização deverá estabelecer relações estáveis ​​com os atores chaves ​​em meio ambiente e manter um diálogo fluido e estável ao longo do tempo. A mudança cultural obrigará a organização a manter uma atitude proativa em relação ao seu compromisso com o meio ambiente, deixando para trás hábitos evasivos e até mesmo opacos em torno deste assunto. A proatividade, a transparência e o compromisso dos fatos outorgarão credibilidade à estratégia de comunicação da sustentabilidade das organizações, protegendo a reputação de suas marcas neste novo e mais exigente contexto.

De um ponto de vista mais tático, os responsáveis ​​pela reputação das companhias deverão adaptar a história, destacando a vontade de sua organização em alcançar acordos impulsionados em Paris. Não bastarão simples promessas ou vontades inespecíficas, mas a história exigirá a robustez dos dados e estes deverão ser quantitativos e propor processos de melhoria mensuráveis e sustentáveis ao longo do tempo. Neste contexto de alta demanda, o rigor no uso da linguagem terá especial relevância, mas as organizações deverão adaptar o relato para seus diferentes públicos, tornando-o inteligível, acessível, compreensível, tal e como aconteceu no passado, com a comunicação dos processos produtivos ou financeiros.

E a quíntupla conta de resultados já é uma realidade para a maior parte das organizações, mas neste novo paradigma resultará chave para comunica-la adequadamente aos diferentes grupos de interesse, atendendo no que se refere ao meio ambiente às entidades do terceiro setor com alta credibilidade na matéria. Os sistemas de reporting internos modificarão os processos de tecnologias de informação e as organizações buscarão o apoio de selos que ofereçam garantia à atividade reportada.

A inovação na linguagem da sustentabilidade não difere das técnicas que os responsáveis ​​pela reputação das companhias estão aplicando em seus relatos gerais 

Finalmente, a inovação na linguagem da sustentabilidade não difere das técnicas que os responsáveis ​​pela reputação das companhias estão aplicando em seus relatos gerais. O fornecimento de depoimentos, a opinião de terceiros autorizados, o uso da imagem, o conteúdo interativo, a viralização, a conexão com a atualidade deverão presidir os espaços de sustentabilidade que as organizações coloquem à disposição da opinião pública, se desejam que seu conteúdo alcance um vínculo emocional consistente. Tudo isso, obviamente, não exime a organização em sua responsabilidade de garantir a alta qualidade dos conteúdos, sejam quais forem as fontes de riqueza externa, capturando a atenção das audiências em um contexto no qual o efêmero tem sido democratizado através da revolução tecnológica.

Os resultados da Cúpula do Clima de Paris têm, portanto, determinado não apenas as políticas dos países em matéria de redução das emissões, mas também o caminho a seguir para as empresas que estão comprometidas com a sustentabilidade em sua estratégia de negócio, elemento indiscutível para reputação em um contexto em que o combate às alterações climáticas é um imperativo ético.

Luisa García (e)
Sócia e CEO da LLORENTE & CUENCA para a Região Andina
Especialista em gestão de contas regionais e consultoria estratégica, Luisa é sócia e CEO para a Região Andina da LLORENTE & CUENCA, Presidente da Câmara Oficial de Comércio da Espanha no Peru e “chapter chair” do capítulo peruano Young Presidents’ Organization (YPO). Além disso, pertence ao Conselho Consultivo da Ajuda em Ação, aos Conselhos Assessores de Ensino do Peru e da Associação para o Progresso da Gestão (APD), no Peru. Luisa foi eleita uma das 50 mulheres de negócios mais influentes da América Latina pela publicação Latin Business Chronicle em 2013, e também reconhecida a Executiva do Ano na América Latina, Executiva do Ano em Serviços Corporativos e Mulher do Ano, na categoria de Comunicação, no Stevie Awards for Women in Business.
María Cura
Sócia e diretora-geral da LLORENTE & CUENCA Barcelona
Sócia e diretora-geral da LLORENTE & CUENCA Barcelona. Licenciada em Direito pela Universidade de Barcelona, atuou, por quatro anos, como advogada especializada em mercado de capitais. Iniciou sua carreira como profissional de comunicação na Gené&Associados. Mais tarde, se juntou à USP Hospitais, onde foi sócia e membro do Comitê Executivo por nove anos, ocupando o cargo de Diretora Corporativa de Marketing e Comunicação. Em 2009, ingressou na LLORENTE & CUENCA, assessorando clientes como Panasonic, Nissan, Schneider Electric, DKV Seguros, Coca-Cola, L'Oreal, Singapore Airlines, CIRSA, Renta Corporação, Vida Caixa, Fundação MACBA, Fundação Dexeus, Roca & Junyent, entre outros. Aconselhou o Governo de Andorra na crise bancária causada pela intervenção do BPA, bem como no lançamento do UBER na Espanha. María é docente externa no máster da pós-graduação do Departamento de Comunicação da Universidade Pompeu Fabra.

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