UNO Outubro 2017

CDMX: os desafios e soluções para construir uma cidade inteligente para os cidadãos

Com passo firme e seguro, assim queremos que a Cidade do México (CDMX) caminhe para se consolidar como uma cidade inteligente. Neste caminho de transição tecnológica há aspectos que não se deve perder de vista para alcançar o objetivo. O tempo urge. E gostaria de começar citando o tempo, pois ele é um fator no qual não podemos confiar.

Há sessenta anos, aconteceu a primeira comunicação, com objetivo militar, entre quatro computadores, dando origem ao que hoje conhecemos como Internet. Esta se expandiu e cresceu tão rápido que acabou definindo um estilo de vida: conectar objetos e até cidade inteiras, e finalmente moldando a economia.

Em 1999, Kevin Ashton chamou de Internet das coisas a esta tendência de conectividade, na qual a conexão e a comunicação entre dispositivos permitiram concentrar informações e gerar tendências. Com a terceira onda da Internet[1], a inovação se tornou um processo constante, pois os dispositivos já têm olhos e ouvidos, o que permite que se adaptem e entrem em nossas vidas.

Com este breve, mas preciso panorama, encontramos a aplicação da tecnologia na vida públicas dos países. Falamos de uma cidade inteligente[2] quando a geração de conhecimento derivado dos dispositivos conectados converge na gestão de recursos públicos para melhorar a qualidade de vida das pessoas e do entorno. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (2016) assegura que a integração tecnológica de desenvolvimento torna as cidades mais inovadoras, competitivas, atraentes e resilientes, melhorando a vida de seus habitantes.

Segundo a ONU, em 2050, 70 % da população mundial (mais de 6 bilhões de pessoas) estará vivendo em cidades.  Por isso, a correta integração das tecnologias da informação é um desafio.

E em que ponto está a CDMX?

O potencial da CDMX

Vamos começar com alguns dados que podem ser interessantes.

A CDMX é uma referência nacional, pois é um reflexo político, econômico e social do país. Nela estão sediados os três Poderes da União: a residência do Executivo Federal, o Congresso da União e a Suprema Corte de Justiça da Nação. É a segunda maior concentração populacional do país[3] e a que mais contribui para o Produto Interno Bruto.[4]

Enquanto a conectividade, 63 % da população mexicana com mais de 6 anos se declarou usuária da Internet, isto é, 70 milhões de internautas, dos quais 3 de cada 4 têm um smartphone[5]. De acordo com PC World México, uma publicação do International Data Group (IDG), a contribuição econômica total da indústria dos dispositivos móveis alcançará os 52 bilhões de dólares em 2020, o que representa mais de 3,8 % do PIB do país.

Estes dados revelam a existência das condições favoráveis para orientar e desenvolver uma cidade inteligente, portanto é necessário examinar a atuação do Governo da Cidade do México, que no último ano realizou esforços para tornar a cidade uma referência mundial. Em setembro de 2016, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SEDECO), com o objetivo de aumentar a conectividade e caminhar para uma cidade inteligente, deu início, em coordenação com a Universidade Nacional Autônoma do México e o Banco Mundial, a execução de um “Plano Mestre de Conectividade da CDMX”, que consiste em:

  1. Identificar a infraestrutura de conectividade existente.
  2. Fazer uma previsão da demanda de conectividade.
  3. Propor o projeto da Rede de Conectividade.
  4. Proposta de renovação do Sistema de Radiodifusão.
  5. Análise da estrutura governamental e identificação de necessidades.

Vale destacar que este plano mestre propõe uma “unidade organizacional” que se responsabilizará da gestão da infraestrutura e do projeto de uma associação público-privada para operar a Rede de Conectividade da CDMX que, com base nas melhores experiências internacionais, permita aproveitar de maneira eficiente a infraestrutura existente, fomentar sinergias e promover o crescimento autônomo e sustentável da nova infraestrutura, além de estabelecer as bases para que a Cidade do México se torne um cidade inteligente.

A CDMX pretende ser uma cidade inteligente que proporciona soluções aos problemas das zonas urbanas, aproveitando a tecnologia para simplificar a vida das pessoas e facilitar as atividades das empresas; mas também quer ir mais longe, e aproveitar as novas ferramentas baseadas na inteligência coletiva e nos processos sociais colaborativos (SEDECO, 2016).

A CDMX pretende ser uma cidade inteligente que proporciona soluções aos problemas das zonas urbanas, aproveitando a tecnologia para simplificar a vida das pessoas e facilitar as atividades das empresas

Em novembro do mesmo ano, o Smart City Playbook da Nokia reconheceu que a CDMX possui a infraestrutura para se converter em uma cidade inteligente, após receber 3 dos 5 pontos possíveis na avaliação.

Por um lado, temos números que mostram um panorama positivo em relação à taxa de crescimento de internautas e à inclusão digital e, por outro, vemos um Governo disposto a posicionar a cidade como uma referência. Mas, no meu ponto de vista, existem três importantes desafios para a cidade que devemos ter sempre presente para não nos perdermos no caminho tecnológico.

Desafios da CDMX

Apesar de que o BID sugere um caminho teórico para que as cidades possam se consolidar com cidades inteligentes, vou propor três reflexões sobre os desafios que tem pela frente a Cidade do México, pois sua consolidação como cidade inteligente é algo muito importante.

Enfoque humano da tecnologia

Para desenvolver este primeiro desafio, vou retomar a ideia do pesquisador do Media Lab, Luis Alonso do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), que assegura que a inovação por si mesma não tem uma relação direta com a tecnologia, mas é uma questão de identificar os principais problemas e visões de cada cidade. A Cidade do México é um reflexo das grandes desigualdades do país. E não é somente um problema econômico, a desigualdade está praticamente em todas as esferas da atividade social, isto é, educação, saúde, renda, etc.[6].

Seguindo este raciocínio, a promoção de uma cidade inteligente deve saber que o conhecimento em rede deve melhorar a vida das pessoas conectadas, mas também aproximar as que não estão conectadas, equilibrando políticas públicas, sem deixar de ver os problemas da urbe, dos cidadãos.

Segundo Enrique V. Iglesias, ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o uso da tecnologia deve ser entendido como um meio e não como um fim si mesmo.

Legislação e inclusão no Programa de governo

O caminho para alcançar a consolidação da CDMX como uma cidade inteligente não deve depender de vontades. Apesar da cidade ter leis que contribuem na promoção da conectividade, como a Lei para Promover o Desenvolvimento do DF como Cidade Digital e do Conhecimento, aprovada em 2012, e a Lei para Tornar a Cidade do México uma Cidade Aberta, é necessário que a liderança desse projeto vá além dos sexênios dos governos e se materialize nos objetivos e linhas de ação do Programa Estatal de Desenvolvimento 2019-2024.

A legislação deve entender a grande importância de uma cidade inteligente e, portanto, deve legislar com antecedência. Por exemplo, a cibersegurança deve criar mecanismos de proteção para todos os envolvidos, que possibilitem um sistema confiável, que não vulnere a alma da cidade inteligente. Sem nenhuma dúvida, o espírito legislador deve ser avançado.

Participação da cidadania

Finalmente, não podemos esquecer que o verdadeiro objetivo desta grande consolidação da conectividade é trazer valor público, isto é, atender as necessidades básicas da população de forma inteligente e fortalecer os princípios cívicos e democráticos da sociedade, como a responsabilidade, a transparência e a participação[7].

A participação dos cidadãos é um pilar que não deve ser deixado de lado, pois são eles que iniciam a transformação e avaliam constantemente o resultado da integração da informação. A satisfação dos cidadãos é o melhor parâmetro para medir o desempenho dessas cidades.

A participação dos cidadãos é um pilar que não deve ser deixado de lado, pois são eles que iniciam a transformação e avaliam constantemente o resultado da integração da informação

Estamos em um momento de mudanças, no qual a administração pública requer um conhecimento profundo e dinâmico das regiões que formam a sociedade. E a modificação das formas de governo e principalmente os novos processos de comunicação entre os diferentes atores envolvidos na tomada de decisões serão definitivos para a consolidação da Cidade do México como uma cidade inteligente[8].

A ideia de criar uma rede de computadores que, com objetivos exclusivamente militares, pudessem ter acesso a todo tipo de informações de qualquer lugar do mundo, nasceu em plena guerra fria, nos anos 1096. Naquele momento era inconcebível imaginar até onde chegaria o projeto de apenas quatro computadores que reuniam informações estratégicas.

Talvez agora seja impossível imaginar até onde pode chegar o potencial das cidades inteligentes, portanto é necessário pensar sobre o objetivo principal da integração tecnológica, antepondo o sentido humano e a participação da cidadania na construção das políticas.

E tudo isso porque podemos gerar muitas vantagens para nossos cidadãos:

  1. Redução do tempo na realização de processos, tornando-os eficazes e mais simples.
  2. Evitam o julgamento subjetivo, devido a transparência da gestão pública, o que gera confiança entre os agentes envolvidos.
  3. Facilita a conexão entre o Estado e os cidadãos, gerando “engagement público.
  4. Redução dos custos operacionais.
  5. Acesso e fluxo de informação contínuos e aproximação com o cidadão.
  6. Utilizam ao máximo os elementos tecnológicos e incorporam controles automatizados.
  7. Fomenta a democracia participativa por meio da participação da cidadania.
  8. Contribui na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e diminui a corrupção.

O tempo urge para a CDMX.

Alejandro Romero
Sócio e CEO para as Américas da LLORENTE e CUENCA
Desde 1997 está à frente do processo de expansão da companhia na América Latina, iniciando as operações do Peru, Argentina, Colômbia, Panamá, Equador, México e, recentemente, Miami. Romero também liderou os processos de comunicação de três das dez operações de M&A mais importantes na região: a venda das operações da BellSouth ao Grupo Telefónica, a aquisição do Grupo Empresarial Bavaria pela SABMiller e a venda do Grupo Financeiro Uno ao Citibank. Em 20 anos de trajetória, conseguiu posicionar nossa companhia como a primeira rede de comunicação da América Latina. [EUA]
Arie Ellstein
Diretor sênior de Assuntos Públicos na LLORENTE & CUENCA México.
Foi presidente executivo da Legix, empresa especializada em Assuntos Legislativos. Colaborou na área de governo e assuntos públicos em empresas como MetLife e em consultorias internacionais de comunicação. Formado em Ciências Políticas, Administração Pública e em Psicologia. Possui um mestrado em Ciências Políticas pela Universidade de Essex e outro em Economia Política Internacional pela London School of Economics. [México]

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