UNO Novembro 2020

A GERAÇÃO que APRENDEU em ANALÓGICO mas EMPREENDEU em DIGITAL

Meu nome é Nerea Luis, tenho 29 anos e sou doutora em Inteligência Artificial. Durante minha curta carreira profissional, estive muitos anos ligada ao mundo acadêmico, como pesquisadora em educação e como docente. Tenho apenas um ano no mundo da indústria, onde encontrar-se com a figura de líder é muito mais habitual. 

Sendo mulher e trabalhando em tecnologia, é difícil que você me imagine dentro do “estereótipo de líder”, que se desenha inconscientemente em nosso cérebro quando alguém menciona esse termo. Por isso mesmo, hoje quero te falar um pouco de mim, de minha geração e da visão de líder com a qual me sinto identificada.

Nasci no começo dos anos 90 e pertenço a essa geração de jovens espanhóis que recebeu a melhor formação (pública, no meu caso) de toda a história recente. Ao mesmo tempo, também sou dessa geração que, em plena etapa universitária, sofria as consequências de uma crise econômica que havia jogado no lixo os sonhos e promessas de muitas famílias. 

Se parasse aqui o texto, o resultado seria pouco encorajador. No entanto, me sinto com muita sorte por pertencer à última geração que conheceu e viveu o mundo ‘analógico’ e ser das primeiras gerações a viver e dar forma ao mundo digital: Internet. Sem dúvida, minha geração está marcada por esta mudança e foi muito positivo. 

Pessoalmente, sem Internet não seria a pessoa que sou hoje em dia, e menos ainda me dedicaria à tecnologia, profissionalmente falando. Tampouco haveria empreendido nenhum projeto, tenho quase certeza disso, pois meu entorno familiar próximo não fundou empresas. E é que, ainda não te contei, mas, graças à tecnologia e à Internet, no colégio criei minha primeira web (com comunidade incluída) e mais tarde, sendo estudante universitária, fui a cofundadora do evento tecnológico anual T3chFest, que acolhia mais de 2.000 participantes e 90 palestras. 

Todos estes acontecimentos despertaram em mim uma vocação empreendedora que até aqueles momentos era inexistente. A curiosidade que sempre havia tido “de menina” se multiplicou e se converteu em vontade de empreender projetos que utilizassem a tecnologia como ferramenta. Penso que algo que nos caracteriza como “líderes do futuro” é a capacidade de empreender e criar pensando em um público diverso e global. O passo seguinte é usar a Internet para dar forma ao processo e finalmente enriquecer-nos de tecnologia para poder obter dados, medir e assim tomar decisões menos enviesadas. Há algo mais, e é a perda do sentimento de pertinência a um lugar físico concreto. Muitos de nós nos consideramos nômades digitais, que podemos desempenhar perfeitamente nosso trabalho com um portátil, um smartphone e pouco mais. De fato, as equipes de pessoas com as que trabalhamos se podem encontrar distribuídos em diferentes cidades ou inclusive países.

A partir do momento em que abandonei meu trabalho de investigadora para iniciar minha carreira profissional na empresa, voltei a trabalhar em equipe fora do âmbito docente universitário. Sob esse ponto de vista, para mim, um líder é aquela pessoa que é capaz de empurrar uma equipe e todo o potencial individual de cada integrante e ao mesmo tempo ser capaz de combinar as habilidades de cada um deles para que os integrantes se complementem, se desenvolvam profissionalmente e cresçam em um entorno diverso, sem egos. Há poucas coisas mais bonitas no entorno laboral do que ver alguém crescer profissionalmente, mais ainda se você for o seu mentor. 

Eu gostaria de pensar que falar dos novos “líderes do futuro” ajudará a abrir mentes e visibilizar que nem todos os líderes usam terno e gravata ou são empreendedores de sucesso com menos de 30, que abandonaram os estudos em Silicon Valley. É necessário mostrar outras caras, outros perfis, e valorizar aqueles que fomentam a aprendizagem em equipe. 

Nestes últimos oito anos me aconteceram coisas excepcionais, graças à mentorização que eu recebi principalmente de mulheres do setor tecnológico e acadêmico. Este artigo também é uma forma de agradecer a todas elas, pelo que colaboram com o mundo e pelo colaboraram comigo particularmente. Ter novas referências que te inspirem e nos quais você se veja refletida como mulher e profissional ajuda muito a reconhecer-se a si mesma (com o tempo) como “líder” quando você gerencia equipes, projetos ou empreende ideias. Tampouco vou mentir para vocês, pessoalmente é uma viagem que me custou uns 10 anos, mas está valendo a pena. Sem dúvida, reconhecer novas líderes ajudará a potencializar o empreendimento feminino e a eliminar de uma vez por todas as desigualdades de gênero.

Finalmente, para terminar este artigo, espero que minha geração seja a encarregada de continuar definindo e melhorando a relação humano-máquina, sem esquecer o que nos faz humanos. A inferência e a interpretação, combinadas, nos dão a nós humanos as ferramentas necessárias para criar, idear e investigar (entre outros).  Se a essa equação adicionamos tecnologia e Inteligência Artificial, temos a oportunidade em nossas mãos de potenciar um produto, processo, serviço ou inclusive áreas de conhecimento completas. Entendamos qual parte deixamos para as máquinas e com qual parte ficamos. E depois, colaboremos. 

Nerea Luis
Doutora em Inteligência Artificial e engenheira de dados em SNGULAR
Nerea Luis, Doutora em Inteligência Artificial, Cofundadora de T3chFest e engenheira de dados em Sngular. É uma apaixonada pela divulgação científica, pela inteligência artificial e pela robótica. Foi eleita Woman Techmaker Scholar em 2016, pelo Google. Em 2018 foi selecionado pela Fundação COTEC dentro de sua rede “Los 100 de Cotec”. Em 2019, Nerea recebeu da Casa Real a condecoração de Ordem do Mérito Civil e foi incluída dentro do Top 100 mulheres líderes na Espanha na categoria revelação. Em 2020, foi incluída no ranking de Future Leaders e trabalhou para a LLYC em colaboração com Trivu.

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