UNO Novembro 2020

GANHAR PERSPECTIVA para GANHAR IMPACTO

Da forma como descrevem as conclusões da investigação Future Leaders da LLYC, uma nova geração emerge, líderes que adotam o coletivo de maneira diferente e que são passionais em sua expressão cotidiana, em sua maneira de comunicar seus pontos de vista, suas convicções, suas reivindicações. É uma geração que, confrontada com a realidade, apresenta a necessidade de mudança de forma ativa. 

O cenário que enfrentamos como sociedade é mutante e há novas dinâmicas que afetam a intensidade e a velocidade das conversações, muito além do geracional. O nível de informação que temos é esmagador e em muitas ocasiões pode nos desorientar, fazendo-nos perder a perspectiva. 

A urgência das mudanças esperadas gera um alto nível de emocionalidade, emoções que por alguns momentos podem dar a sensação de que bloqueiam conversações necessárias. A necessidade de ganhar perspectiva se impõe, é preciso entender as visões dos diferentes atores que confluem em nossa sociedade, para assim destravar os diálogos necessários para encontrarmos as soluções para as tensões sociais que nos preocupam.

Neste cenário, e com esta confluência de atores com diferentes perspectivas, emerge como uma “bússola” que nos orienta na ação uma renovada procura de propósito. Tanto os novos líderes, como as organizações da sociedade civil, os governos ou as empresas conseguem ganhar perspectiva na procura de seu propósito, procurando impactos positivos para a sociedade. 

Em certas ocasiões, a energia dos líderes do futuro se canaliza mais em manifestações em redes sociais, em uma espécie de ativismo “circunstancial”, que pode ser tomado como declarativo, sem uma tradução adequada em ação para gerar reais transformações da realidade. Muitas vezes nos encontramos com uma lacuna entre o falar e o fazer. 

Mas podemos falar que a reivindicação de mudança é escutada por empresas e está endereçada pela forma como nós, cidadãos-consumidores tomamos decisões cotidianas, em como manifestamos nossas preferências. Cada vez que escolhemos um ou outro produto, mobilizamos o mercado em um ou outro sentido. Isto não passa desapercebido pelos agentes econômicos. 

Nos últimos tempos vimos emergir marcas definindo e expressando seu propósito na procura de uma nova conexão com seus públicos. No entanto, o ato de verbalizar o propósito, sem ligá-lo a transformações e impactos, pode traduzir-se de forma mais vertiginosa em perda de sentido. 

Um novo ativismo determina a agenda de prioridades da sociedade de uma nova forma. Um ativismo que vem das pessoas, que se manifesta de forma renovada, mas que também se observa nas ações (e reações) dos governos. Esta dinâmica entre ativismo das pessoas e ativismo governamental gera tensões que emergem da sociedade, tensões que se vivem com ansiedade, de cara à realidade e por sua projeção a futuro. É uma dinâmica que questiona o horizonte temporal em que se procuram as soluções, e se traduz em uma exigência para as empresas de acelerar transformações. 

Como resposta a esta nova realidade, há algo muito potente que está acontecendo, algo que nos permite ser otimistas na hora de pensar as soluções na escala que necessitamos, e que procura responder aos anseios dos líderes do futuro. Em distintos países, e até mesmo em nível global, estão emergindo coalizões de agentes múltiplos, que se atribuem um objetivo comum. Coalizões que procuram transformar a realidade, deixando atrás os temas competitivos, que saem da armadilha do “mínimo denominador comum” na qual entraram muitas organizações empresariais, organizações que pararam em um modelo de gerenciamento do passado.  É um modelo de trabalho conjunto, onde os esforços se alinham para conseguir mudanças positivas para a sociedade, não para defender o status quo. É uma aproximação distinta às soluções, onde se procura ganhar influência social em forma aberta e que se fortalece em uma aprendizagem compartilhada. É uma nova forma de administrar interesses, mas incluindo a sociedade. O foco que anima estas coalizões é diferente. Elas podem promover ações para reverter a mudança climática, para proteger e restaurar a biodiversidade em nossos ecossistemas naturais, ou para conseguir um crescimento mais inclusivo, mas em todas as ocasiões essas coalizões procuram informar a sociedade sobre o desafio, se apresentam abertas a caminhos alternativos de solução, e conseguem a apropriação por parte de um espectro amplo de agentes. É um modelo que reflete os valores distintivos que caracterizam os líderes futuros, e os traduz em ação. 

O surgimento de novos líderes ocorre tanto na sociedade em seu conjunto como nas organizações sociais e empresas em geral. Muitas empresas, influenciadas por seus novos líderes, ou por líderes que escutam e entendem o que se apresenta na sociedade, se transformam na procura de uma maneira melhor de fazer negócios. Muitas destas empresas são Empresas B, que procuram um triplo impacto ambiental, econômico e social, mas também há um grupo de empresas internacionais, de grande tamanho, que entenderam o desafio e estão trabalhando juntas em coalizões em nível global, gerando impactos positivos em grande escala.

Sem dúvida, a chegada da nova geração de líderes é uma oportunidade para todos nós. É um momento de ação, de esforços compartilhados. Hoje, todos podemos ser parte e liderar a mudança. Quanto melhor nos entendemos, melhor conversamos, e de nosso diálogo surgem coisas boas.

Ganhar perspectiva nos ajuda a encontrar pontos de encontro transformadores.

Facundo Etchebehere
Vice-presidente Global de Assuntos Públicos da Danone.
É economista e mestre em Ciências Políticas da Universidade Católica Argentina. Previamente a esta função desempenhou o papel de Diretor Regional de Assuntos Corporativos para a Danone Américas. Foi presidente do Conselho Publicitário Argentino e secretário do Conselho Profissional de Relações Públicas da Argentina. Anteriormente foi investigador acadêmico, consultor econômico e também desempenhou diferentes funções no Setor Público argentino, a nível nacional e provincial.

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