UNO Novembro 2020

LIDERANÇA que TRANSCENDE

Vivemos tempos incertos. No plano pessoal, cada um de nós enfrenta regras novas de vida para um jogo em que  uma pandemia nunca fez parte. Por conta disso, tivemos que reorganizar e repensar nosso dia a dia. No plano profissional, com sorte, não jogamos fora todas as nossas previsões, mas quase todas, e tivemos que formular novos objetivos. Digo com sorte com a intenção de reivindicar aquilo que já é muito conhecido: o que não se move, perece, murcha, adormece. Foi preciso uma pandemia para nos pôr a prova, testar nossa resiliência e nosso impulso; aquilo que nós gostamos de chamar liderança.

O que é a liderança para um CEO no momento atual? É capacidade de influência, sim, mas também é a responsabilidade de atribuir a todos e cada um dos colaboradores de responsabilidades particulares: de sua autoliderança; de liderar com empatia e talvez mais do que nunca, com transparência, assertividade e humanidade. Todos merecemos líderes mais humanos, e tudo indica que este tipo de líder chegou para ficar; é uma necessidade para as futuras gerações e para as atuais. Em um dos últimos relatórios da consultora McKinsey intitulado “From a room called fear to a room called hope: A leadership agenda for troubled time”, consta, de forma certeira, que quando as pessoas acreditam que um líder se preocupa com o bem-estar, compromisso e sucesso da equipe, ele ajuda as pessoas a passarem de um espaço de medo a um de esperança. Os líderes hábeis demonstram que se preocupam ao expressarem compaixão pela angústia e mazelas emocionais infligidas pela crise em questão, e as ações tomadas por eles e pelas organizações fazem a diferença. Reconhecem que as notícias são ruins e que a situação pode piorar antes de melhorar. Ademais, são líderes presentes física e emocionalmente. Seguindo na mesma linha, as pessoas estão mais dispostas a aceitarem e implementarem decisões complicadas ou difíceis quando acreditam que seus líderes se preocupam por eles e estão tratando de fazer o melhor para o bem comum, ao invés de somente para eles mesmos. Inclusive quando esta decisão, que foi baseada no bem comum, não satisfaça diretamente objetivos pessoais de algum membro de sua equipe. 

A COVID-19 nos trouxe grandes lições de vida em que ainda não sabemos se sairemos melhores. Mas o que sabemos, com certeza, é que já somos diferentes. Por isso mesmo é necessário que cada pessoa da organização tome propriedade da posição que ocupa e que, a partir dessa autoliderança, expanda plenamente sua capacidade, defina seus objetivos, trace a rota a seguir, e reme na mesma direção. Sem uma autoliderança clara, dificilmente poderemos liderar os outros. A autoliderança exige método e disciplina, como o atleta que se prepara conscienciosamente para as olimpíadas. Alguém imagina Rafael Nadal sem sua disciplina forjada à base de sua resiliência? Eu convido vocês, a propósito, a escutar suas palavras depois de seu último triunfo em Roland Garros. Mostra-nos todo um exemplo de mentalidade positiva e esforço.

mesmo é necessário que cada pessoa da organização tome propriedade da posição que ocupa e que, a partir dessa autoliderança, expanda plenamente sua capacidade, defina seus objetivos, trace a rota a seguir, e reme na mesma direção.

Além disso, a liderança não deve estar vinculada com a hierarquia e tampouco localizada na figura do “chefe”.  De fato, as organizações atuais e futuras estarão promovendo a liderança horizontal e interpessoal entre áreas, chave em equipes multidisciplinares e inclusive multiculturais e descentralizadas. A liderança é influência, sim, mas também responsabilidade. Poucas vezes refletimos sobre a segunda, e esta exige mais maturidade para exercer a influência. A responsabilidade se mostra assumindo erros e tomando decisões. 

A responsabilidade do líder hoje sofreu uma mudança. Ela está um passo além da influência, para se posicionar semanticamente de forma a incitar a capacidade de transcender e de inspirar. Estes conceitos, tão intimamente unidos ao famoso – e passível de manipulação – propósito, são chaves para entender essa liderança e marcam as relações que queremos desenvolver não só em uma organização, mas também na vida pessoa.

A responsabilidade do líder hoje sofreu uma mudança. Ela está um passo além da influência, para se posicionar semanticamente de forma a incitar a capacidade de transcender e de inspirar.

  1. Liderança transcendente: já no ano 2008, a revista IESE Insight nos oferecia um artigo que falava sobre a liderança focada na missão. No ano 2020, falamos de propósito, mas o espírito é o mesmo. Um tipo de liderança que não somente busque uma transformação interpessoal, oferecendo aos colaboradores um ambiente de trabalho atrativo, onde possam aprender e se engajar, mas uma liderança cuja influência supere essas barreiras pessoais para apelar à necessidade de realizar um trabalho para um bem comum. Esse propósito compartilhado, um sentido de “missão”, em que cada pessoa desenvolve em todos os níveis sua “ownership”, através de um compromisso com o propósito implementado de cima para baixo; uma cooperação que consista em ir além dos interesses próprios, conseguindo que todos os colaboradores vejam o todo da missão; e, por último, a mudança como continuidade, como expoente, com as habilidades e talento para trabalhar a favor desse propósito compartilhado
  2. Liderança inspiradora: relacionada intimamente com aquelas qualidades poderosas que nos fazem únicos, diferentes e relacionadas intrinsecamente por esse “charme” que apela diretamente à nossa emoção, à necessidade vigorosa de querer estar rodeados de pessoas que nos energizam e nos desafiam. É este tipo de liderança que podemos reconhecer precisamente nos outros e nas outras, onde a hierarquia nada tem que ver com a influência, mas com essas qualidades poderosas que surgem diretamente e se sustentam. Pessoas assim são as que chamamos de mentores. 

O mundo e as pessoas estão ávidos por líderes que transcendam. Melhor ainda: que nos movam, evoquem nosso melhor e nos mudem. Comecemos, então, por nós mesmos. 

Francesc Noguera
CEO Banco Sabadell
Licenciado em Administração de Empresas e MBA pela ESADE Business School em Barcelona, conta além disso com um Global Master in Digital Business de ISDI. Iniciou sua carreira profissional na Arthur Andersen, onde foi consultor e auditor de entidades do setor financeiro. Durante sua carreira no Banco Sabadell desempenhou posições executivas no âmbito internacional. Atualmente dirige o Banco Sabadell no México, filial do banco espanhol que fundou em 2014 junto a uma equipe de 12 pessoas e que atualmente já está entre os 10 principais bancos do país em negócio empresarial.

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