UNO Junho 2021

A criatividade como um atributo de competitividade

Talvez o conceito mais aceito de criatividade é o da capacidade de criar novas ideias sobre a base de informação ou experiências aprendidas. Se bem que a criatividade é inerente à mente humana, é certo que há pessoas cujo pensamento criativo está mais desenvolvido que em outras. A diferença não está na capacidade criativa, mas na capacidade das pessoas de abstrairem-se do pensamento lógico ou convencional, e identificar e solucionar problemas de forma criativa; quer dizer, indo por um caminho distinto, diferente, divergente ou que seja novidade. A criatividade, que sem dúvida exerceu um papel fundamental na própria evolução dos seres humanos, é um atributo cada vez mais valorizado, sobretudo no mundo em que vivemos hoje onde os avanços tecnológicos, tais como a inteligência artificial, põem a prova a produtividade das pessoas e sua capacidade de resolver problemas.

A criatividade normalmente foi associada a disciplinas com algum componente artístico, mas o certo é que a criatividade está presente em todas as disciplinas e facetas da vida profissional e o Direito não é alheio a essa realidade. De fato, a criatividade sempre esteve presente no Direito e com o passo do tempo vai tomando cada vez mais relevância, particularmente na prestação de serviços profissionais.

O advogado criativo é aquele capaz de abstrair-se do tradicional, combinando seu conhecimento, experiência e sentido comum para inovar a favor de seu cliente.

O Direito é uma disciplina cujo objetivo final é o ordenamento social. As leis são (ou deveriam ser) o resultado do consenso social sobre como queremos ou devemos comportar-nos, abarcando a totalidade das relações humanas, desde as mais básicas até as mais complexas.
É assim pois que a formação jurídica dos advogados lhes ensina a identificar, analisar e solucionar problemas sobre a base do conhecimento do ordenamento jurídico, utilizando o que os advogados chamamos a lógica jurídica.

Agora bem, quando aplicamos esta descrição algo abstrata a situações altamente complexas como a prestação de serviços jurídicos empresariais, a lógica jurídica muitas vezes não é suficiente. A complexidade das operações financeiras, as fusões empresariais, os conflitos societários, os planeamentos estratégicos, entre outros, requerem que os advogados não se limitem a utilizar o conhecimento e a lógica para a identificação, análise e solução de problemas. Esta tem que ser complementada com outros atributos como a intuição, a experiência e claro, a criatividade.

O advogado criativo é aquele capaz de identificar e valorar riscos não aparentes, o que apresenta ideias que são novidade para solucionar problemas, minimizar ou controlar riscos; o que é capaz de propor estratégias de defensa de maneira inovadora. O advogado criativo é aquele capaz de abstrair-se do tradicional, combinando seu conhecimento, experiência e sentido comum para inovar a favor de seu cliente.

O mundo da assessoria jurídica empresarial (ou de estúdios, escritórios de advogados ou firmas como se lhes conhece nos distintos países de fala hispânica) é cada vez mais competitivo e não somente pela oferta de serviços jurídicos cada vez mais sofisticados, mas pelo próprio desenvolvimento da tecnologia e as ferramentas de Inteligência Artificial. O mercado de demanda de serviços jurídicos tende a recompensar aqueles serviços que agreguem valor a suas organizações ou que oferecem um real retorno ao investimento em honorários jurídicos. Pelo contrário, dito mercado tende a não terceirizar aqueles serviços de baixo valor agregado e cada vez mais procura investir em tecnologia que substituam as horas homem.

Efetivamente, o desenvolvimento tecnológico e as ferramentas de inteligência artificial no mundo jurídico estão colocando em xeque a maneira tradicional de prestar serviços jurídicos e obrigando os escritórios de advogados a repensar suas estratégias de competitividade. Agora bem, assim como os seres humanos, a inteligência artificial também tem suas limitações, pelo que não devemos entendê-la como uma ameaça, mas como uma oportunidade.

Em um futuro muito próximo, os chamados a manter-se relevantes no mercado dos serviços jurídicos serão aqueles que saibam combinar adequadamente as ferramentas da inteligência artificial com o talento humano criativo, que tirem o maior proveito da informação e estatística para criar soluções inovadoras.

A corrida não é contra a tecnologia, mas com a tecnologia: a chamada “Colaboração Cognitiva”, na qual os seres humanos e as máquinas trabalham juntos. As máquinas entregando informação, estatística, identificando erros, predizendo decisões judiciais; e os advogados, utilizando ditas ferramentas para criar soluções inovadoras e plantear estratégias menos aparentes. Em um futuro muito próximo, os chamados a manter-se relevantes no mercado dos serviços jurídicos serão aqueles que saibam combinar adequadamente as ferramentas da inteligência artificial com o talento humano criativo, que tirem o maior proveito da informação e estatística para criar soluções inovadoras. A verdadeira competência na prestação de serviços jurídicos está na procura de talento criativo, aquele que possa agregar valor aos clientes que as ferramentas de inteligência artificial ainda não podem.

Rafael Boisset Tizón
Sócio diretor do escritório de Peru de Philippi Prietocarrizosa Ferrero DU & Uría
Advogado especialista em fusões e aquisições de empresas. Possui mais de 20 anos de experiência trabalhando em importantes escritórios de advocacia no Peru, Brasil, México e Nova York. É advogado pela Universidade de Lima onde se graduou com honra e conta com um mestrado em Direito pela Columbia University. Professor de Fusões e Aquisições na Universidade de Lima.

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