UNO Junho 2021

Criatividade e empatia: a vacina que nos falta?

Fomos desafiadas a escrever “a duas mãos” sobre um tema que nos fascina às duas: a criatividade. Agradecidas pela honra de formar parte desta edição de UNO totalmente dedicada a este tema, mas sem deixar de sermos conscientes do desafio que nos era oferecido: nunca tínhamos trabalhado juntas; íamos fazê-lo em dois idiomas diferentes; e, necessariamente, tínhamos duas visões diferentes sobre o tema. Com esta introdução, somente podemos esperar que o resultado seja, ao menos, útil e inspirador.

Nos dedicamos ao desenvolvimento de campanhas que procuram melhorar o índice de fidelização ou engagement das diferentes comunidades que se relacionam com as marcas para as quais trabalhamos. Uma parte fundamental de nossa tarefa se apoia em nossa capacidade de extrair insights sobre os quais desenvolver um conceito criativo. No final das contas o que é um insight se não a conclusão de um exercício de empatia? Por acaso podemos encontrar uma ideia destas características se não somos capazes de nos colocar no lugar dos outros? Por este motivo, decidimos que a solução ao enfoque no qual íamos trabalhar estava na união da criatividade e da empatia, dois conceitos que além disso tivemos que colocar em prática desde nosso primeiro contato, na forma em que nos colocamos no lugar da outra, e em que divergimos para convergir.

Existem para isto ferramentas muito interessantes como o “Empathy mapping”, uma matriz que procura ordenar nossos esforços para entender o que o usuário diz e faz junto ao que pensa e sente.

Melinda Gates defendeu que o ponto de partida da evolução humana é a empatia: “Tudo flui daí. A empatia te permite escutar e escutar conduz à compreensão. Assim é como obtemos uma base de conhecimento comum. Quando as pessoas não estão de acordo, geralmente é porque não há empatia, não há um sentido de experiência compartilhada. Quando sentimos o que sentem os outros, é mais provável que vejamos o que vem. Nesse instante podemos entender-nos. Podemos passar a um intercâmbio de ideias honesto e com respeito, que é o selo distintivo de uma associação de sucesso. Esta é a fonte do progresso”.

Empresas líderes em inovação como IDEO, que trabalham desde a crença de que todo o mundo é criativo e que a criatividade é um acelerador do avanço das organizações, incorporam a empatia de maneira expressa nos processos de Design Thinking. Existem para isto ferramentas muito interessantes como o “Empathy mapping”, uma matriz que procura ordenar nossos esforços para entender o que o usuário diz e faz junto ao que pensa e sente, em um exercício necessário de colocar-se na pele de outro para cobrir ou descobrir suas necessidades.

Saímos ao terreno em procura de informação sobre tudo isso. Queríamos escutar com empatia as pessoas de ambos lados da fronteira sobre o uso da “criatividade” e a “empatia” durante o ano de 2020, um período marcado pelas medidas de proteção contra a pandemia de COVID-19. Será que estes conceitos ganharam maior peso em um contexto de grande incerteza? Porque o enfoque não está em “ser perfeitamente criativo”, mas em ser “criativamente imperfeito” – quer dizer, aceitar a imperfeição e pensar em formas criativas de superar o desafio que isto nos apresenta.

Entrevistamos 86 pessoas entre Espanha e Portugal e encontramos conclusões interessantes. Mais de 80% considera que onde mais se aplica a criatividade é no trabalho, seguido da família e dos amigos. Enquanto que se falamos de empatia, os termos se invertem e seu uso no ambiente de trabalho se reduz a 50%. No contexto COVID, intensificaram suas habilidades criativas e empáticas no ambiente pessoal, primeiro com a família, seguida dos amigos, para animar-lhes e encontrar formas novas de relacionamento e proximidade. No ambiente profissional, criatividade e empatia foram chave no gerenciamento das equipes, para entender sua situação e procurar novas formas de manter o espírito de empresa, seguido da escuta para fornecer soluções diferentes a seus clientes e no relacionamento com os líderes da organização.

Apesar de que mais de 40% dos entrevistados manifestam que não acreditam que exista relação entre criatividade e empatia, quando nós vamos a temas concretos, os exemplos que fornecem do uso de ambas habilidades são muito parecidos. O melhor é que 100% dos entrevistados está seguro de seguir utilizando estas habilidades a partir de agora.

Escutar com empatia requer entrar na estrutura de referência da outra pessoa porque a empatia não é compaixão, é compreensão.

Nossa investigação nunca teve a ambição de ser representativa, mas nos indica que se iniciou uma mudança importante em nosso relacionamento, sobretudo profissional, e que isto significa uma forma diferente de enfrentar cada tema, desafio e decisão desde o ponto de vista humano como prioritário. De fato, “one size doesn’t fit all”. Escutar com empatia requer entrar na estrutura de referência da outra pessoa porque a empatia não é compaixão, é compreensão. A criatividade não sempre é fácil de medir, mas repercute no bem-estar, na satisfação pelo bem comum e na mudança de hábitos, gerenciando todo o anterior de forma empática, trará sempre felicidade à mudança.

De acordo com a EY e o observatório Future for Work Institute, 91% das empresas preveem que a criatividade seja a competência mais procurada em um futuro próximo. Google , por sua parte, diz que a empatia é a competência do futuro. Na realidade, e da forma como estão as coisas, é competência de ontem, de hoje e, sim, também do futuro. Acreditamos que isto vai de mãos dadas com a criatividade e que juntas formam um superpoder, a vacina capaz de dar uma resposta a muitos dos desafios aos que nos enfrentaremos neste novo contexto.

Ana Folgueira
Sócia e Diretora Executiva Estúdio Criativo
Licenciada em Ciências Econômicas pela UAM e mestrado em Escritura Criativa pela Escola de Letras. Foi professora universitária e trabalhou durante vários anos no setor de Venture Capital supervisando o investimento e seguimento de start-ups. Ademais de ser a Diretora Executiva do Estúdio Criativo, é a Fundadora da Fundação Dreamtellers (agora Fundação LLYC) e participou em mais de 50 projetos de storytelling audiovisual para diferentes organizações e empresas como BBVA, EY, Siemens Gamesa, Schindler, Coca-Cola e Campofrío.
Marlene Gaspar
Diretora das áreas Consumer Engagement e Digital
Possui uma experiência profissional de mais de 15 anos como responsável na comunicação de marcas dentro de agências multinacionais de publicidade como Grey, Leo Burnett, Lintas e Young & Rubicam. Neste trajeto empreendeu um projeto de criação de conteúdos de caráter local: Lisbon South Bay, um blog dedicado à vida na margem Sul do rio Tejo. É formada em Relações Públicas e Publicidade pelo Instituto Superior Novas Profissões e realizou uma pós-graduação em Marketing e Negócios Internacionais no INDEG-ISCTE.

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