UNO Agosto 2013

Conhecer a América Latina é estar um passo a frente

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A tendência está suficientemente definida: mais democracia, mais instituições, mais progresso, mais integração. A América Latina desponta como uma exceção em um mundo marcado pelo pessimismo da crise da velha Europa, estagnada, lenta, sem pulsação e sem impulso. O eixo do poder internacional que vem deslizando-se há anos em direção ao mundo asiático coloca, não só geograficamente, os países latino-americanos no ponto médio entre um europeísmo decadente e os emergentes, e muito peculiares, regimes asiáticos, cujo valor agregado é fundamentalmente economicista.

A Ibero-América abraça a Terra através dos dois oceanos sem perder sua identidade ocidental e atlântica enquanto hoje mantém o olhar focado no outro lado do Pacífico. A América Latina é o alvo das economias esgotadas como contrapeso esperançado para sair da crise nascida já há oito anos nos Estados Unidos e à qual os países latino-americanos mal podem resistir (ainda). Conhecer a América Latina é estar um passo a frente. O que está acontecendo agora na América Latina? Ou melhor, o que vai acontecer a partir de agora nas Américas?

Há seis anos na Infolatam viemos analisando e informando sobre os acontecimentos mais relevantes, políticos, econômicos e sociais da Região. Seis anos proporcionaram já uma perspectiva suficiente para esboçar algumas ideias sobre essa realidade plural e heterogênea; às vezes contraditória, felizmente poucas vezes surpreendente.

A América Latina desponta como uma exceção em um mundo marcado pelo pessimismo da crise da velha Europa, estagnada, lenta, sem pulsação e sem impulso

Durante esse período, ocorreram fatos que, considerados em si mesmos, poderiam ser pouco relevantes, mas que em seu conjunto apontam claramente na direção que antes estava avançando. Os analistas concordam que avaliar os processos eleitorais consolidou sistemas democráticos de partidos, as tentações presidencialistas encontraram seus contrapesos, que as economias se estabilizaram, que o desenvolvimento favorece a integração social. Tudo isso com muitas e justificadas ressalvas sobre a sobrevivência das desigualdades e da injustiça social, do grave problema da falta de segurança e a violência. Com o agravante da falta de liberdade no caso de Cuba.

14Todas essas circunstâncias fizeram da América Latina uma terra de oportunidades. Daí surge a importância de ter as ferramentas para o conhecimento preciso do conjunto regional e, ao mesmo tempo, do seguimento do que acontece com todos os países, sejam maiores ou menores, com vocação de liderança ou mais dependentes do porvir dos outros; dirigidos por governos conservadores, de esquerdas, bolivarianos ou simplesmente ditatoriais.

Os especialistas latino-americanistas opinam permanentemente que é um grave erro aproximar-se à realidade da América Latina como se fosse totalmente homogênea. E claro que é assim. Cada país, e às vezes dentro de um mesmo país, há uma história diferenciada e uma realidade presente; há um futuro efetivamente plural, mas ao mesmo tempo condicionado pelo desenvolvimento regional, que eu diria mais econômico que político.

Os governos da América latina enfrentam a crise europeia conscientes de que, mais cedo ou mais tarde, começarão a ser evidentes seus efeitos na Região. De qualquer forma, existe um consenso generalizado de que a América Latina tem a suficiente força e está o bastante preparada para superar a crise, inclusive melhor que em 2009. A América Latina aposta dessa forma para estimular medidas anticíclicas caso seja agravada uma crise europeia que começa a refletir no outro lado do Atlântico.

Para conhecer bem a América Latina, a tarefa dos Meios de Comunicação é primordial. O jornalismo latino-americano, com meios tradicionais –jornais impressos agora transformados em multimídia– de muito alto prestígio e qualidade, e os surgidos sob o amparo das novas tecnologias da comunicação, podem chegar a ser alvo das iras dos regimes com menos escrúpulos democráticos. Desde a época da Independência, os principais jornais vincularam sua existência aos ideais da revolução contra o despotismo da metrópole. E ainda continuam um pouco assim. Não é por acaso que na América Latina de hoje os ataques à liberdade de informação venham dos regimes chamados bolivarianos.

Meios de Comunicação, Fóruns, think-tanks, Cúpulas institucionais, etc. requerem tempo, dinheiro e esforços para analisar o presente, mas não conseguem revelar como vai ser o futuro regional

Seja por meio da intervenção nas concessões, ou nas indústrias do papel, ou diretamente prendendo profissionais, há quem pretenda que a história do futuro latino-americano seja escrito segundo suas ordens, sobre suas próprias linhas. Pretender controlar este fluxo comunicacional é como colocar portas no campo.

Meios de Comunicação, Fóruns, think-tanks, Cúpulas institucionais, etc. requerem tempo, dinheiro e esforços para analisar o presente, mas não conseguem revelar como vai ser o futuro regional além das advertências sobre o risco que abrange a dependência das matérias-primas e do consumo da China, do aquecimento de algumas economias ou de insuficientes níveis de bancarização.

Consuelo Álvarez de Toledo
Diretora da Infolatam
É editora e diretora da Infolatam, a principal plataforma online de informação, opinião e análise sobre a América Latina em espanhol e português. Colabora como analista de política nacional no RNE e no programa 24 Horas da RTVE. Foi redatora da Actualidad Económica e da Cambio 16 e, em 1977, entrou na Agência EFE como correspondente político nas Cortes Constituintes. Publicou dois livros: Vida de mi vida, confidencias de jóvenes abuelos (Vida da minha vida, confidências de jovens avós, em tradução livre.) (2003) e 4 días de marzo (4 dias de março, em tradução livre). De las mochilas de la muerte al vuelco electoral (Das mochilas da morte à virada eleitoral, em tradução livre) (2004), ambos da editoria Planeta.

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