UNO Agosto 2013

Parte da solução para os desafios mundiais

13_2Os países da América Latina estão hoje melhor posicionados que no passado para realizarem o seu desenvolvimento potencial. A partir do início deste século, a maior parte dos países da região conseguiu reduzir a inflação para níveis controláveis, reduziu substancialmente os seus níveis de endividamento e instituiu regimes de taxas de câmbio mais flexíveis. A acumulação de poupança interna contribuiu para financiar o investimento crescente, enquanto os ganhos de produtividade constituíram um importante motor de crescimento dos sectores mais competitivos. Os choques externos que assolaram grande parte da região no passado, causaram fortes desvalorizações cambiais e regimes de inflação intoleráveis, deixando as classes sociais menos protegidas em situação de extrema dificuldade. A lição extraída destas crises pelas nações latino-americanas é a mais eloquente evidência da recém-adquirida resiliência destas economias, e a revelação de uma melhor performance relativa durante a atual crise financeira mundial quando comparada com os E.U.A, a Europa ocidental e o leste asiático.

Com países como o Brasil e o México emergindo como atores globais, a região transforma-se em parte da solução para os grandes desafios mundiais, da resposta à atual crise financeira, até à resolução dos mais prementes problemas relacionados com alterações climáticas no planeta. Esta região, tipificada como de rendimento médio, conseguiu retirar 60 milhões de indivíduos da pobreza absoluta entre 2002 e 2008, uma tendência agora ameaçada pelos efeitos da crise global.

O Brasil evidencia-se como o país líder, no progresso de toda a região, tendo promovido importantes reformas nos sistemas político e financeiro que lhe permitem, hoje, encarar as vicissitudes da crise com alguma placidez

Não existe um modelo ou referência que possa definir uma tendência-padrão para toda a região. Dentro da sua diversidade, cada nação percorre o seu próprio caminho, buscando o bem-estar económico e social. O que se torna hoje, bastante evidente, é que os povos da América Latina ambicionam um futuro que ofereça oportunidades a todos os seus concidadãos, ao invés de beneficiar algumas minorias.

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Para que este sonho se transforme numa realidade, a região necessitará de modernizar as suas infraestruturas, melhorar a qualidade do seu sistema educativo, realçar o ambiente de negócios e colocar os Estados ao serviço das populações, prestando os serviços mais elementares a todos os cidadãos.

BRASIL A LIDERAR O PROGRESSO

O Brasil evidencia-se neste contexto como o país líder, no progresso de toda a região. Com um território de dimensão continental, uma quantidade e diversidade de recursos naturais e matérias-primas que lhe atribuem a auto suficiência energética e o auto abastecimento alimentar, o país promoveu importantes reformas nos sistemas político e financeiro que lhe permitem, hoje, encarar as vicissitudes da crise com alguma placidez.

Lançado em 2007, o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, veio aumentar e disciplinar o investimento público, focando os seus objetivos no estímulo ao crescimento do PIB e do emprego, intensificando a inclusão social e a melhoria na distribuição de renda. Concluído em 2010, este plano trouxe ainda importantes medidas de desoneração fiscal em regiões mais carenciadas e gerou 9 milhões de novos empregos. A segunda fase deste programa, iniciada em 2011, mantém os objetivos principais, atribuindo uma maior atenção à criação e modernização de infraestruturas, o que deverá garantir, em associação com o natural crescimento do consumo, uma forte dinâmica na procura interna para os próximos anos.

Durante a última década, o Brasil alterou substancialmente o perfil do seu comércio externo, com a abertura de novos e importantes mercados como o asiático e o africano, em detrimento dos seu tradicionais parceiros europeus e norte americanos. Com a introdução da lei de responsabilidade fiscal, no final da década de 1990, algo que teria sido muito útil a alguns estados norte americanos e europeus, o país conseguiu reduzir substancialmente o seu nível de endividamento público mantendo níveis confortáveis –atualmente de 30% do PIB–, acumulando importantes reservas cambiais e estabelecendo-se hoje como o segundo maior financiador mundial do FMI, após os EUA. O sistema financeiro brasileiro é extremamente robusto, situando-se na casa dos 16% o core tier 1 médio dos principais bancos nacionais.

O panorama geral para a evolução e fortalecimento de uma nova e importante centralidade na América Latina, revela-se muito auspicioso. Esta realidade não poderá deixar de ser aproveitada pelas nações ibéricas, as quais têm uma condição privilegiada para o fazer

O panorama geral para a evolução e fortalecimento de uma nova e importante centralidade na América Latina, revela-se muito auspicioso. Esta realidade não poderá deixar de ser aproveitada pelas nações ibéricas, as quais têm uma condição privilegiada para o fazer. O eixo ibero-americano constitui-se no principal tentáculo de ligação desta nova realidade ao continente europeu e é por isso que Espanha e Portugal deverão de forma articulada assumir maior protagonismo em fóruns internacionais, como as cimeiras EU-Mercosul, defendendo a quebra de barreiras inúteis que protegem interesses que só a outros eixos beneficiam…

António Ricardo Espírito Santo Bustorff
Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira
Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira. É também Presidente da BMF - Sociedade de Gestão de Patrimónios, S.A. e Director Geral da BMF - Serviços Financeiros, Lda. Trabalhou no Banco Santander de Negócios, J.P. Morgan, Banco Inter-Atlântico, Banco Bozano Simonsen de Investimento. Foi ainda Presidente da Comissão Consultiva das Sociedades Gestoras de Patrimónios. É licenciado em Gestão de Empresas pelo Instituto Superior Mackenzie de São Paulo e fez formação em Gestão Bancária no J.P. Morgan (U.S.A.). 

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